Título: Economia
Autor: Froufer, Célia ; Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2012, Economia, p. B4

Mantega sinaliza que governo já trabalha com um piso de R$ 1,80 para o dólar

Para evitar que a indústria enfrente mais problemas com a concorrência de importados baratos, o governo passou a trabalhar com um piso de R$ 1,80 para o dólar. A sinalização foi dada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, a senadores, para quem avaliou o novo patamar como "mais favorável" às exportações e à produção. Mesmo assim, ele considerou o nível insuficiente. "Outras medidas têm de ser tomadas", disse.

Além de anunciar ações recentemente, como a expansão da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos de até cinco anos no exterior, Mantega vem usando o "gogó" para atingir seu objetivo. Ontem não foi diferente. Disse que o principal instrumento de defesa do País é a administração do câmbio e prometeu que novas medidas virão.

O dólar mais valorizado não aumenta só o poder de competição dos produtos domésticos. Funciona também como uma barreira para evitar que dinheiro especulativo chegue aqui. "Eles vêm buscar as nossas taxas, os nossos negócios", afirmou. "Tomaremos medidas para que isso não atrapalhe o Brasil."

A preocupação com esse movimento se dá porque, para salvar suas economias, vários países avançados inundaram o mercado com recursos financeiros. Sem ter onde aplicá-los, o Brasil passa a ser uma opção atrativa. "Não podemos fazer papel de bobos com a manipulação cambial", disse o ministro.

Para Mantega, seria melhor que o País adotasse o câmbio flutuante puro, aquele que tem sua cotação a partir da demanda e oferta do mercado. Mas, disse ele, isso não é possível agora. Até porque outros países direcionam suas cotações para onde querem. A China é um exemplo.

Portas fechadas. Por conta desse cenário, o governo decidiu taxar praticamente todas as portas de entrada do dólar. Por enquanto, estão livres os investimentos no setor produtivo - chamado de Investimento Estrangeiro Direto (IED).

"Queremos que IED continue vindo." O problema é que essa atuação do governo no câmbio respinga em um setor que se tenta proteger: o dos exportadores. A arma usada para elevar a cotação acabou encarecendo o financiamento para os exportadores. Essa questão foi apontada por senadores ligados à atividade industrial e agrícola e Mantega tratou de prometer uma compensação nos mesmos moldes feitos no passado quando houve mudança no mercado de derivativos. "É luta difícil manter o câmbio mais favorável aos exportadores", reconheceu.

Além de mandar recados para o mercado doméstico, o ministro não poupou a Organização Mundial do Comércio (OMC), organismo multilateral que serve como xerife nas transações comerciais internacionais. "Vou ser curto e grosso. A OMC está desatualizada em matéria de concorrência comercial. Essa é que é a verdade", afirmou .

Segundo Mantega, vários países vêm usando o câmbio como uma ferramenta comercial, da mesma forma que os subsídios eram usados no passado. Mantega chama esse recurso de "subsídio cambial". Por isso, defende a criação do "dumping cambial", que pode servir como uma punição para o país que se aproveitar da cotação de moedas para entrar em outros mercados em condições mais favoráveis.