Título: Após denúncias contra Unip, MEC muda Enade para evitar manipulação
Autor: Paraguassu, Lisandra ; Pompeu, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2012, Vida, p. A27

Educação. Alteração nas regras do próximo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes determina que, além dos alunos que se formarem em dezembro de 2012, terão de fazer a prova aqueles que concluírem o curso em agosto de 2013; medida é preventiva

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, alterou ontem as regras do próximo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). Além dos alunos que se formarem em dezembro de 2012, como previa a norma atual, terão de fazer a prova, em novembro, estudantes que concluírem o curso seis meses depois, em agosto de 2013.

A mudança vem no rastro da denúncia divulgada pelo Estadão.edu de que a Universidade Paulista (Unip) selecionava apenas bons alunos para prestar o Enade e melhorar a nota da instituição. "Isso resolve o problema que nós identificamos de postergar a formatura do aluno por um semestre, intencionalmente ou não, para poder eventualmente melhorar o desempenho no Enade", disse o ministro. "Queremos que todos eles façam a prova para que a gente tenha a verdadeira avaliação da instituição."

Outra medida estudada pelo MEC diz respeito a alunos transferidos de uma universidade a outra no último ano da graduação. A ideia é fazer com que a nota do estudante seja atribuída à instituição onde ele estava matriculado anteriormente. A medida visa a evitar que universidades reprovem em massa estudantes de baixo desempenho no ano anterior ao Enade.

Em 2 de março, o Estadão.edu revelou que o MEC cobrou da Unip explicações sobre indícios de irregularidades nas notas do Enade. Tomou a medida com base num relatório enviado ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

A decisão anunciada por Mercadante é preventiva. Apesar da denúncia, não foi aberta investigação ou sindicância contra a Unip. A resposta da Unip chegou ao MEC na noite de segunda-feira - um documento de mais de cem páginas que está sendo analisado pelo Inep.

Na conclusão do trabalho, se ficar confirmado que houve tentativa de manipulação dos resultados, o ministério poderá determinar algum tipo de punição à Unip. Por enquanto, a decisão de mudar o Enade pretende apenas impedir que a suposta manipulação continue.

Especialistas em avaliação aprovaram a mudança. O senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PDT-DF) diz que, quanto maior o número de inscritos no Enade, mais fiel o retrato da qualidade dos cursos.Para Maria Helena Guimarães de Castro, ex-presidente do Inep , a participação de todos os alunos do último ano permitirá avaliar com mais precisão os conhecimentos acumulados ao longo da faculdade.

A vice-reitora da Unip, Marília Ancona Lopez, negou que haja seleção de alunos, mas admitiu que a universidade aumentou a reprovação de estudantes nos anos anteriores ao Enade. "Tivemos um curso de Direito da capital em que 200 alunos saíram para uma instituição concorrente."

A Unip informou que, além das respostas à denúncia, atribuída a uma "concorrente", pode enviar outros dados ao MEC. "Estamos ainda considerando a possibilidade de complementar essa resposta com novas documentações, incluindo, entre outros, o detalhamento do trabalho da Comissão de Qualificação e Avaliação da Unip." A universidade alegou que o trabalho se iniciou em 2008, três anos antes do Enade de 2010, objeto das denúncias. "Portanto, período suficiente para melhoria dos cursos." / COLABOROU CARLOS LORDELO