Título: Dilma ameaça câmbio com MP a cada semana
Autor: Monteiro, Tânia ; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/03/2012, Economia, p. B3

Presidente diz a líderes sindicais que seu governo vai combater real forte, que não é "anti-industrial" e que "nosso problema é juros, câmbio e inflação"

A presidente Dilma Rousseff aproveitou ontem a reunião com sindicalistas para dar um duro recado aos especuladores e mostrar sua disposição de impedir que o real seja sobrevalorizado.

"Quem apostar na desvalorização cambial vai perder dinheiro porque, se precisar, eu edito uma medida provisória por semana para garantir que não haja desvalorização (do dólar)", disse ela, conforme relato do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical.

Na conversa de duas horas, Dilma admitiu a desindustrialização no País e avisou que tomará medidas "a toda hora, se preciso" para proteger o setor, segundo informou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique. Ela ressalvou, no entanto, que não poderia adiantá-las porque muitas são "sensíveis".

"Vamos suplementar a política industrial para não permitir a desindustrialização", disse Dilma, prometendo chamar empresários para uma reunião, em breve, no Palácio do Planalto. "Vou cobrar deles os investimentos".

Na terça-feira, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu um pacote para proteger a indústria nacional.

Com a crise internacional, um dos setores mais prejudicados pela valorização do real e também pelas importações chinesas é o têxtil. No encontro com os sindicalistas, a presidente mostrou preocupação com a desaceleração da economia da China.

Ao ouvir críticas dos sindicalistas em relação a uma divisão no governo entre desenvolvimentistas e defensores da especulação financeira, Dilma não se conteve. "Estou perplexa com este negativismo de vocês. Meu governo não é anti-industrial", disse ela, em tom exaltado.

O presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), Wagner Gomes, citou medidas adotadas na Argentina para enfrentar a crise e Dilma ficou ainda mais irritada. "Vocês falam da Argentina, mas a Argentina está com 20% de inflação, meus amigos", reagiu a presidente.

Os sindicalistas bombardearam Mantega, mas Dilma não aceitou as críticas. "Vou defender aqui o Mantega", insistiu ela, citando medidas adotadas para enfrentar a crise externa. "E vou resumir para vocês: nosso problema é juros, câmbio e inflação. Vocês estão pensando o quê? O Brasil vai crescer mais do que o resto do mundo. E não é no segundo semestre, não. É agora."

Ao comentar a visita que fez à Alemanha, na semana passada, Dilma voltou a atacar o que chamou de "tsunami monetário" por parte dos países desenvolvidos, que provoca a desvalorização das moedas. "Ficam dizendo que o Brasil é um país protecionista, mas protecionismo vergonhoso é a desvalorização cambial", devolveu a presidente.

Guerra dos portos. Dilma, avisou, ainda, que o "governo quer pressa na votação da Resolução 72". A medida acaba com a guerra dos portos. Ela recomentou às centrais sindicais que pressionem o Senado para que o texto uniformizando as alíquotas do ICMS nas operações interestaduais com bens e mercadorias importadas seja votado logo.