Título: BC inova na ata e antecipa freio no corte dos juros
Autor: Fernandes, Adriana ; Nacagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2012, Economia, p. B3

Há pelo menos duas novidades na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira. A primeira é o anúncio, com todas as letras, da estratégia que o Banco Central pretende adotar, com relação à fixação da taxa básica de juros no curto prazo. A outra, também presente na primeira, pode ser o início de uma auspiciosa substituição, visível no texto do comunicado, do "coponês" - um código para iniciados - pelo vernáculo.

O Copom inovou ao deixar claro que "atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando". Com isso, avisou à praça, com inédita transparência, que pretende levar a taxa básica nominal para 9% ao ano (o mínimo histórico foi de 8,75%, em 2009) e mantê-la nesse nível por certo tempo, presumivelmente um pouco mais longo.

Ao lembrar o Federal Reserve, que, em 2011, também surpreendeu com o anúncio de que manteria juros próximos de zero até pelo menos 2013, estendendo depois a decisão para 2014, o BC antecipou um freio no ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em agosto do ano passado. Na batida em que pareceu evoluir, depois do corte de 0,75 ponto, na reunião da semana passada, muitos passaram a imaginar um intervalo mais fundo e mais longo, com a taxa Selic nominal descendo até 8,25% ao ano, depois de outras duas talagadas iguais e sucessivas, em abril e maio,

A simples observação da inflação mensal registrada em 2011, no entanto, desautorizava esse roteiro mais acelerado de redução dos juros. De olho nos índices de 2011, é fácil verificar que a trajetória do IPCA em 12 meses é francamente descendente até abril - talvez até maio. Depois, é muito improvável que a curva não reverta, elevando o índice em 12 meses pelo menos até agosto. Daí para a frente, a tendência é estabilizar.

A maior dúvida, portanto, é se haverá um corte só e mais forte, já em abril, ou se a descida da Selic a 9% ao ano se estenderá até a reunião de fins de maio. A primeira hipótese é, por enquanto, muito mais provável.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 16/03/2012 05:37