Título: Decisão do BC esfria debate sobre poupança
Autor: Fernandes, Adriana ; Nacagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2012, Economia, p. B3

Copom também busca, com piso de juros de 9%, acelerar crescimento ainda em 2012

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de abrir o jogo, ao indicar o piso de 9% para a queda dos juros, não só provocou uma revolução ontem no mercado financeiro, mas também deixou claro que o Banco Central acelerou a dosagem de redução da taxa Selic para conseguir efeitos no crescimento da economia ainda em 2012.

Ao mesmo tempo, a revelação do BC gerou uma consequência boa para a equipe econômica: tirou a urgência do debate sobre mudanças nas regras das cadernetas de poupança nesse momento em que o governo enfrenta problemas na sua base de sustentação no Congresso Nacional. Ao explicar que o juro ficará em um patamar que a economia já conviveu no passado recente, o governo acredita que esfriará o polêmico debate sobre as cadernetas porque, em 2009 - quando a taxa chegou em 8,75% -, não houve problemas com o tema.

Naquela época, o menor juro da história suscitou debates sobre a necessidade de mudança nas regras e também o alerta de que poderia haver migração em massa dos fundos de investimento para as cadernetas, movimento que poderia atrapalhar a gestão da dívida pública. Mas o problema não aconteceu. Por isso, hoje, o governo entende que, ao explicitar o juro mínimo de 9%, mostra que não há pressa para tocar o assunto porque, nesse patamar, gestão da dívida e poupança já conviveram perfeitamente.

Efeito PIB. Uma queda da Selic em doses menores - num período mais longo de tempo - poderia retardar para 2013 os resultados desejados pela presidente Dilma Rousseff de garantir um crescimento robusto da economia já este ano, segundo apurou o Estado. Por isso, as indicações são de que o BC cortará a Selic em 0,75 ponto porcentual na próxima reunião do Copom, em abril, para garantir que o impacto da medida seja sentido este ano.

A desaceleração mais forte da economia no segundo semestre do ano passado foi o sinal para a urgência de acelerar o passo nesse início de ano. Os integrantes do governo afirmam que, embora o BC só tenha a meta de inflação para perseguir, o Copom também olha o ritmo de crescimento e outros indicadores para tomar as suas decisões sobre juros. A área técnica da equipe econômica, internamente, já aponta riscos relevantes de o crescimento ficar mais baixo do que os 3,5% estimados pelo BC. A crise na indústria só agrava o quadro e amplifica a possibilidade de um crescimento menor.

A inflação em queda e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo do seu potencial, na avaliação de fontes do governo, dão sustentação à decisão do Copom. Para integrantes do governo, não houve erro de sinalização do BC e as críticas do mercado estariam muito relacionadas às perdas sentidas por apostas equivocadas.

Segundo essas mesmas fontes, houve exagero do mercado no início desta semana ao interpretar erroneamente como uma meta do governo a declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, de que a taxa Selic vai convergir para os 6% da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

"O mercado viu o que quis para fazer ajustes", disse uma fonte.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 16/03/2012 05:3