Título: Grécia finaliza acordo com bancos e dá o maior calote da história
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2012, Economia, p. B1

Em acordo com credores privados, a Grécia promove o maior calote da história moderna e obteve ontem da União Europeia (UE) o sinal verde para seu resgate de 130 bilhões. Enquanto governos foram rápidos em classificar o acordo como um sinal de que "a página da crise está sendo virada", agências de classificação de risco reduziram a nota grega e investidores alemães chegam a chamar o evento de um exemplo de como a Europa se transformou numa "república de bananas".

Segundo os bancos, porém, o pacto evita um calote descontrolado que poderia custar 1 trilhão para a Europa em danos e aprofundar a crise mundial. O acordo entre os bancos privados para perdoar mais de 100 bilhões da dívida grega era uma condição para que a UE aceitasse dar seu segundo pacote de resgate em menos de dois anos.

De acordo com o diretor do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Charles Dallara, o acordo é "a maior restruturação da dívida soberana já feita". Mas, segundo ele, "reduz os riscos de um contágio nos mercados". A instituição, que representa os maiores bancos do mundo, foi quem negociou com os gregos, na percepção de que um calote desordenado da Grécia acabaria provocando um caos ainda maior que o calote negociado.

Assim, a reestruturação da dívida, incluindo o calote e financiamentos da UE e do FMI, atinge 206 bilhões. O calote da Grécia, de 100 bilhões, supera o da Argentina em 2001 - de 60 bilhões. Tanto o montante da restruturação quanto as perdas dos investidores com o calote serão superiores no caso grego. Investidores perderão 74% do valor dos títulos gregos. No caso argentino, as perdas foram de 73%.

Na realidade, as situações são bem diferentes. O calote grego foi negociado, tem apoio do FMI e bilhões de euros da UE para não deixar o país isolado. Embora marginal, a economia grega faz parte da zona do euro e acontecimentos no país poderiam contaminar países do bloco.

Na manhã de ontem, o governo grego anunciou que investidores que controlam 83,5% dos papéis emitidos pelo país - 172 bilhões - aceitaram o calote parcial, o que permitiu a Atenas ativar a cláusula de ação coletiva e forçar a aprovação pelo restante dos investidores, que detêm 25 bilhões em títulos da dívida.

Diante do acordo, ministros da zona do euro deram luz verde para o resgate. Na avaliação dos ministros, a Grécia cumpriu as condições exigidas por Bruxelas e o pacote agora vai para a aprovação dos Parlamentos nacionais.

A primeira parte dos recursos, de 35,5 bilhões, foi desbloqueada e vai para os bancos locais, permitindo que a Grécia honre compromissos antes de 20 de março, quando terá de contar com 14,5 bilhões. Na segunda-feira, os gregos devem fazer a troca dos bônus dos credores privados por títulos de longo prazo.