Título: Tesouro age em favor da desvalorização do real
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/03/2012, Economia, p. B2

O governo não está satisfeito com a cotação de R$ 1,80 por dólar, ao contrário do que se pensava, e não desistiu de medidas que sustem a valorização da moeda nacional - como se depreende da entrevista do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin (no Estado de ontem), ao anunciar a decisão do governo de antecipar o pagamento de parte da dívida externa para contribuir com a política da Fazenda de reduzir a valorização do real ante o dólar.

Com reservas superiores a US$ 355 bilhões - quando o nível seguro seria de três vezes o valor da importação mensal -, o Tesouro considera que pode, sem dificuldades, dispor de US$ 15 bilhões para antecipar o pagamento de pequena parte da sua dívida. Já tomou a decisão de antecipar o resgate de parcela da sua dívida com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no montante de US$ 2,9 bilhões. Trata-se de um valor bastante reduzido, perante uma instituição que tem os juros mais baixos.

A operação, que deverá ser ampliada, tem a vantagem de economizar alguns juros que oneram nosso balanço de pagamentos e, assim, reduzir o custo das operações de compra de divisas pelo Banco Central para conter a desvalorização do real.

Esse custo é muito elevado, como se sabe, porque leva o Banco Central a emitir, e vender no mercado, títulos da dívida pública para neutralizar a liquidez criada com a compra das divisas - títulos cuja remuneração é muito maior do que a que o Brasil recebe pelos títulos do Tesouro norte-americano comprados com as divisas adquiridas.

Destinar apenas US$ 15 bilhões a esse resgate de parte da dívida terá um efeito insignificante sobre o volume de juros que estamos pagando.

O secretário do Tesouro acrescentou que as compras de divisas serão realizadas também pelo Fundo Soberano, que tem maior liberdade de aplicar seus recursos com maior rendimento, sem deixar de ser prudente. Não explicitou, porém, qual o montante dessa compra.

Deixou entrever, ainda, que o Tesouro poderá aumentar o prazo de compra antecipada de dólares para pagar compromissos externos, hoje de 1.500 dias.

Convém alertar, porém, contra medidas que tornem os empréstimos externos mais caros do que os internos, o que poderá levar os bancos no Brasil a elevarem suas taxas de juros justamente no momento em que as autoridades procuram obter o contrário. Além disso, se as grandes empresas podem ter acesso a créditos externos de longo prazo, esse não é o caso das médias e pequenas.