Título: FMI critica uso dos juros para aliviar câmbio
Autor: Alves, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2012, Economia, p. B12

O diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Nicolás Eyzaguirre, condenou o uso de taxas de juros como principal instrumento para desestimular a entrada de capital e assim aliviar a pressão sobre a taxa de câmbio. A ameaça da "tsunami financeira" para as economias da América Latina é um dos principais temas de discussão entre líderes políticos, economistas e autoridades governamentais na reunião anual do Banco Interamericano (BID) que ocorre em Montevidéu até a segunda-feira.

"Pensando no Brasil, é perfeitamente aceitável cortar juros se a demanda não está crescendo o suficiente, como aconteceu no quarto trimestre no Brasil", disse Eyzaguirre a jornalistas durante a reunião anual do BID. "Agora, se você está fazendo os cortes não porque a demanda não está crescendo, mas porque você está tendo muito fluxo de capital, então você terá que adotar medidas macroprudenciais não apenas para tentar estabilizar o sistema financeiro, mas para tentar compensar o impulso adicional que você terá na economia com o corte de juros. Temo que é pedir demais de regulações macro prudenciais em termos de sua capacidade real para estabilizar a economia", disse o diretor do FMI.

Há um debate entre economistas no Brasil sobre se o governo deveria ser menos agressivo nos cortes de juros e utilizar outras medidas para conter a entrada excessiva de capital e a consequente valorização do real. O governo já afirmou que as medidas macroprudenciais também poderiam ajudar no estímulo da economia.

Eyzaguirre lembrou que o objetivo principal de medidas macroprudenciais deveria ser o de garantir a estabilidade do sistema financeiro, e não é um instrumento elaborado para conter um crescimento mais forte da demanda agregada. "Não que medidas macroprudenciais não tenham um impacto sobre a demanda agregada, mas não é a melhor política para isso", disse.

Para Eyzaguirre, se o fluxo de capital para um determinado país continuar forte, com o impacto sobre a moeda desse país, o FMI não vê problemas na adoção de controle de capitais. "Estamos numa situação que a quantidade de liquidez que está sendo injetada na economia mundial poderá levar a uma apreciação muito forte de moedas, o que poderá prejudicar as economias receptoras do fluxo de capital mais do que o nível aceitável", afirmou Eyzaguirre. É inevitável que os países ricos mantenham políticas monetárias bastante frouxas para evitar uma recessão e o excesso de liquidez no mundo, traduzindo-se em juros próximos de zero em países desenvolvidos, deverá persistir nos próximos dois anos. / F.A.