Título: Selic pode ficar abaixo de 9%, diz Goldfajn
Autor: Alves, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2012, Economia, p. B12

Para o economista-chefe do Itaú, riscos externos podem acentuar queda dos juros

Os riscos externos, especialmente com uma eventual desaceleração mais acentuada da economia da China e uma possível deterioração da crise na zona do euro, ou uma forte valorização do real poderão vir a forçar o Banco Central a reduzir os juros básicos para abaixo de 9%, na opinião do economista-chefe do Banco Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn.

Para ele, não é possível ainda para o mercado "fechar os olhos" e tomar como totalmente definido um piso para a taxa Selic. Dependendo do cenário externo, os juros podem cair para até 8,5%, segundo ele.

"A intenção do governo é de chegar a 9% dado o cenário de hoje", afirmou Goldfajn em entrevista exclusiva durante a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Montevidéu, Uruguai. "Se a recuperação da economia for mais lenta do que o esperado, eles vão se sentir tentados a dar mais estímulo. Além do mais, se a pressão no mercado de câmbio, com fluxos e a taxa de câmbio apreciando mais, for maior, eles também podem se sentir tentados a estender um pouco mais o corte de juros." A ata divulgada na última quinta-feira da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu pelo corte da taxa Selic em 0,75 ponto porcentual para 9,75%, colocou como piso do ciclo atual de redução de juros um patamar "ligeiramente acima do mínimo histórico", o que foi interpretado por economistas e analistas como sendo 9%, pois o mínimo histórico dos juros básicos no Brasil é de 8,75%.

Apesar de manter a sua projeção para a taxa Selic em 9% no final deste ano, Goldfajn ressaltou que o mercado não deveria se ater numa projeção de 9% a ferro e fogo, ou seja, mirar os 9% como um piso cristalizado, imutável. Até porque, destacou Goldfajn, há mais riscos negativos para o cenário base, ou seja, são maiores os riscos de redução de juros para abaixo de 9% do que os riscos de que a queda no corte fique no piso interpretado pelo mercado na ata do Copom. "A questão externa não foi resolvida completamente", ressaltou. "Houve um ânimo com o problema da Europa agora, mas pode voltar mais lá na frente, talvez com novas dúvidas sobre a Grécia mais adiante." Assim, a economia da zona do euro pode ter um desempenho pior do que o esperado, o que afetará a economia mundial.

A China é outro fator de risco, especialmente se a desaceleração da economia chinesa fora mais rápida do que o esperado, mesmo já levando em conta a nova meta de crescimento do PIB chinês de 7,5%, anunciada pelo governo asiático no início deste mês. "Se o crescimento da economia chinesa chegar perto, de fato, dos 7,5%, o pessoal vai ficar preocupado", disse Goldfajn. A projeção dele é que o PIB chinês cresça ao redor de 8% neste ano.

Goldfajn, que estima outro corte de 0,75 ponto porcentual na taxa Selic na reunião do Copom de abril, se diz estar no grupo de economistas que apoiam o uso dos juros como principal instrumento para estimular a economia mais do que as chamadas medidas macroprudenciais, as quais dispensariam o uso mais agressivo dos juros como remédio. "Há uma tendência global, e não só no Brasil, de usar mais os instrumentos macroprudenciais", afirmou Goldfajn. "Mas eu ainda acho que a taxa de juros é o antibiótico mais amplo e, por isso, é o instrumento preferido."