Título: Automóveis mais vendidos resistem aos novos modelos
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2012, Economia, p. B12

de fabricantes e importadores é de 290 modelos, mas cinco mais vendidos ainda concentram quase 30% do mercado

A ascensão social da população brasileira trouxe ao País, nos últimos anos, leva de fabricantes e importadores de veículos que despejam no mercado 290 diferentes modelos de automóveis e comerciais leves. Se forem levadas em conta as versões, com diferenças como potência de motor e número de portas, há mais de 1,2 mil opções em oferta.

Com tanta variedade, os cinco modelos da lista de mais vendidos no Brasil, que há dez anos respondiam por quase 50% dos negócios de carros novos, hoje participam com cerca de 30%. Embora menor, a concentração ainda é forte e tem como característica estar focada em carros compactos, todos produzidos localmente. Outro detalhe é que a lista dos preferidos pouco mudou em quase uma década.

Em 2002, do 1,39 milhão de automóveis e comerciais leves vendidos no mercado brasileiro, 48,3% eram dos modelos Gol (Volkswagen), Corsa e Celta (General Motors) e Palio e Uno (Fiat). No ano passado, o segmento vendeu 3,42 milhões de unidades, sendo 28% de Gol, Uno, Celta, Corsa e Fox (VW). Enquanto as vendas totais mais que dobraram em dez anos, as dos cinco primeiros da lista de preferência cresceram 43%.

"O Brasil tem grande concentração no segmento de entrada (compactos), com atuação maior de fabricantes locais", confirma Marcelo Cioffi, sócio da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC). Só os chamados carros populares, com motor 1.0, representam 45% das vendas, índice que vem caindo ao longo dos anos - era 70% em 2001 -, mas ainda é poderoso.

A chegada de novas marcas nos anos 90 e a maior concorrência de importados levaram o setor a um salto de 70% no número de modelos fabricados localmente. Em 1990, segundo a PwC, as montadoras produziam 37 diferentes modelos no País, número que chegou a 63 no ano passado. A projeção da consultoria é de atingir 83 modelos em 2015. Isso sem contar que modelos tradicionais como Gol e Uno são renovados a cada tempo, mas os nomes são mantidos.

Com o número atual de modelos em produção, o Brasil se assemelha à Alemanha, que produz 65 automóveis diferentes. Está, porém, muito atrás da China, com 270, do Japão, com 208, dos EUA, com 109 e da Índia, com 100. "O Brasil tem um mix interessante de produtos e, embora tenha menos modelos que países mais avançados e grandes emergentes, está à frente de mercados como França, Espanha e México", ressalta Cioffi.

As possibilidades de o Brasil melhorar sua posição na lista são grandes, ante o anúncio de novas montadoras que vão iniciar produção no País. Entre elas estão a japonesa Toyota, que fará o compacto Etios na fábrica de Sorocaba (SP) a ser inaugurada no segundo semestre; da coreana Hyundai, que também inaugura este ano complexo em Piracicaba (SP); e da chinesa Chery, em fase de terraplanagem da área da fábrica em Jacareí (SP).

Outros projetos foram anunciados, como os das chinesas JAC, na Bahia, e da Brasil Montadora de Veículos, no Espírito Santo, além daqueles que aguardam publicação do regime automotivo para serem confirmados, como o da alemã BMW.

Compactos. Em comum, as três fábricas mais adiantadas vão inaugurar linhas com modelos compactos, classificados como Segmento B, que inclui os cinco atuais campeões de venda. "É um segmento que exige grande volume de produção para ser viável", diz Cioffi. "Quanto mais concentrado, melhor será a rentabilidade da montadora."

Além dos modelos 1.0, o Segmento B inclui compactos de motorização maior (1.4, 1.6 e 1.8). Com a melhora da renda, mais facilidade no crédito e economia em crescimento, ainda que em ritmo mais lento, os consumidores brasileiros têm migrado para automóveis mais potentes, mais equipados e mais luxuosos.

Carros de luxo, com motor acima de 2.0, a maioria importada, representavam 0,6% das vendas em 2005. Hoje, essa participação é de 1,5%. No mesmo período, modelos intermediários, com motor até 2.0, tiveram a parcela nas compras ampliada de 44% para 53%, enquanto os populares caíram de 55% para 45%.

O carro básico, ou de entrada, perde espaço. Um exemplo é o líder de vendas Gol. Segundo Henrique Sampaio, gerente de marketing de produto da VW, a versão mais barata da linha representa 15% das vendas. "Há cinco anos, era 30% a 35%." Significa que 85% dos compradores de Gol escolhem versões com diferentes combinações de opcionais, que vão de vidro elétrico e travas a computador de bordo.