Título: OMC critica medidas de proteção ao câmbio
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2012, Economia, p. B6

A Organização Mundial do Comércio (OMC) vai alertar o Brasil e demais países na semana que vem que políticas comerciais, barreiras e sanções tarifárias podem não ser as melhores formas de resolver os desafios que a variação cambial provoca no comércio.

Nos dias 27 e 28, em Genebra, a OMC realiza o primeiro evento em 18 anos para tratar da relação entre o câmbio e o comércio, depois de uma ofensiva diplomática brasileira. Mas as resistências de vários governos ameaçam a sobrevivência de qualquer debate sobre o assunto. Parte dos economistas vai alertar que o real está valorizado por causa do sucesso da economia brasileira e da renda que entra no País com as exportações de commodities.

Ao contrário do que chegou a ser divulgado pela imprensa brasileira, a OMC insiste que um levantamento feito por ela revela que não há consenso entre os maiores economistas do mundo se de fato a variação cambial tem efeito no comércio e se sanções são justificadas. A OMC também desmente informações divulgadas nos últimos meses, apontando que ela teria tomado uma posição mais próxima aos argumentos brasileiros.

Palco O evento proposto pelo Brasil se transformou em palco político para o governo de Dilma Rousseff, com alguns dos mais graduados embaixadores em Genebra alertando que Brasília está ávida em mostrar ao público interno sua defesa dos interesses dos industriais brasileiros.

Nos últimos meses, o assunto se tornou uma das principais bandeiras para a política comercial brasileira, sob a alegação de que a desvalorização forçada estaria favorecendo as exportações de certos países e pressionando as importações do Brasil. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a falar em "guerra cambial".

Mas a reunião da OMC caminha para ser um banho de água fria nas pretensões do governo brasileiro de levar o assunto adiante nos fóruns internacionais, com um número importante de atores alertando que a questão não entra no debate de políticas cambiais e o Brasil pode estar usando a questão cambial como cortina de fumaça para não falar de problemas de competitividade reais de sua economia. * CORRESPONDENTE / GENEBRA