Título: Poucos cubanos praticam o catolicismo
Autor: Mayrink, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2012, Vida, p. A23

Cerca de 60% dos cubanos são católicos, mas só uma pequena porcentagem deles pratica a religião. Sempre foi assim, não é uma consequência do regime comunista, como observou o cardeal-arcebispo de Havana, d. Jaime Lucas Ortega Alamino, em entrevista ao Estado, em maio de 2007, quando participou da 5.ª Conferência do Episcopado Latino-americano e do Caribe, em Aparecida (SP).

"O papa quer estar conosco, com a minoria católica e com a maioria devota à Virgem da Caridade que compõe a nação cubana, e também quer se aproximar daqueles que não pertencem a nenhum dos dois grupos", escreveu o porta-voz da Arquidiocese de Havana, Orlando Márquez.

Embora Bento XVI visite um país em processo de transformação, seria arriscado, conforme observa Márquez, acreditar que, na falta de entidades, grupos ou partidos independentes, a Igreja vá se converter num catalisador de mudanças radicais em Cuba. Se algumas pessoas acreditam nisso, outras acham que ela possa se converter em aliada natural do governo, enquanto outras desejam que ela se afaste e se feche.

"Importante é que tanto o governo como a Igreja saibam manter o propósito de manter o diálogo", diz Márquez. Foi graças ao diálogo que o cardeal Ortega conseguiu, em 2011, a libertação de algumas dezenas de presos políticos ou dissidentes, que puderam refugiar-se na Espanha. Foi uma conquista admirável, mas ainda insuficiente, na opinião de intelectuais críticos do regime.

Injustiça. No dia 20 de fevereiro, o site www.desdecuba.com publicou uma carta endereçada a Bento XVI, escrita pelo médico Jeovany Gimenez Vegas, da província de Artemisa, pedindo a intercessão da Igreja para a correção de uma injustiça: a proibição imposta a ele e a um colega, em 2006, por ter encaminhado ao Ministério da Saúde a reclamação de 300 médicos que reivindicavam melhores salários.

Márquez espera que os cubanos recebam o papa como pastor e entendam suas palavras, quando ele proclamar o evangelho de São João na Praça da Revolução. "Se vocês guardarem a minha palavra, vocês de fato serão meus discípulos; conhecerão a verdade, e a verdade libertará vocês", diz Jesus no texto litúrgico previsto para a missa. / J.M.M.