Título: Marta manda Haddad gastar sola de sapato e pressão piora clima no PT
Autor: Rosa, Vera ; Frazão, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2012, Nacional, p. A4

Enquanto o PT tenta administrar a crise interna sobre a coordenação da campanha do ex-ministro Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo e dirigentes manifestam preocupação com as dificuldades para o nome do petista decolar, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) escancarou ontem a insatisfação com a estratégia da cúpula do partido. Indignada com as pressões do Palácio do Planalto e do PT para socorrer Haddad, Marta avaliou que o partido erra novamente ao lhe cobrar ajuda agora, quando deveria procurar aliados.

"Haddad tem que gastar sola de sapato", disse a senadora ao Estado."Além disso, as alianças farão diferença. O restante é conhecer os problemas da cidade e conquistar a militância. Ninguém pode substituir e nem fazer isso pelo candidato."

Marta fez o comentário ao saber que o governo e o PT farão uma força-tarefa para pressioná-la a entrar na campanha e auxiliar Haddad, principalmente na periferia, conforme revelou o Estado ontem. Ministros conhecidos em São Paulo, como o titular da Educação, Aloizio Mercadante - que concorreu ao governo paulista em 2010 -, e o da Saúde, Alexandre Padilha, também serão escalados para aparecer em atos ao lado de Haddad.

"Não se turbina uma candidatura com desespero, pressões e constrangimento", escreveu a senadora no Twitter. Sem esconder a mágoa por ter sido excluída da disputa bem antes da entrada do ex-governador José Serra (PSDB) no páreo, a ex-prefeita de São Paulo (2001 a 2004) usou o microblog para dar o seu recado, abrindo nova crise no PT.

Pouco depois de Marta esbravejar contra a atuação do PT no Twitter, Haddad agiu rápido para conter o mal-estar na campanha. Em entrevista a uma rádio da capital, elogiou a administração da petista na Prefeitura e disse ter sido "uma honra" trabalhar ao lado dela. Haddad foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças na gestão de Marta.

"A tese de que qualquer candidato do PT tem assegurados 30% do eleitorado não é totalmente verdadeira. O desafio principal do momento é o de convencimento e costura do mais amplo leque de forças, que seja capaz de derrotar o PSDB em São Paulo", insistiu Marta no Twitter.

Desde 2000, os candidatos majoritários do PT à Prefeitura tiveram votação de pelo menos 30% - incluindo, além de Marta, José Genoino e Mercadante.

A reação de Marta foi uma resposta a declarações do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para quem a campanha em São Paulo não pode apostar todas as fichas na presença do ex-presidente Lula. Para Carvalho, é preciso "colar" Haddad na militância.

"O Lula é um ator muito importante eleitoralmente, mas não dá para jogar nas costas dele toda a nossa campanha em todo lugar do Brasil", reiterou ontem o ministro - que passou a tarde com Lula em São Bernardo do Campo -, após a notícia de que o tumor do ex-presidente foi extirpado (leia abaixo).

Lula disse a Carvalho que participará "moderadamente" das campanhas. "Ele sabe que o seu estado de saúde não recomenda sair fazendo comícios em tudo que é lugar." Para o ministro, a direção do PT deve traçar a estratégia para ajudar Haddad. "Precisamos tomar cuidado porque o Haddad não é o centro da vida do Lula. É uma coisa importante, mas nós comentamos isso: a militância precisa entrar na campanha para dar peso". Carvalho insistiu: a campanha, em São Paulo, não pode se resumir a Lula.

O presidente do PT na capital paulista e coordenador da campanha de Haddad, vereador Antonio Donato, disse que é impossível fazer a candidatura decolar neste momento. "Não tem milagre agora. Haddad vai crescer em agosto. Antes é difícil, porque não tem mídia de massa. Então, não tem desespero." Para o deputado José De Filippi Jr. (PT-SP), que recusou convite para ser tesoureiro de Haddad, campanha é TV e muito corpo a corpo. "O crescimento é uma questão de tempo", amenizou.