Título: Mercado reage mal ao comunicado oficial tardio
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/03/2012, Economia, p. B4

O mercado financeiro demonstrou o incômodo com a condenação da Bolsa de Valores, com uma queda de 2,67% em suas ações no índice Bovespa. Entre agentes de mercado e acionistas, o desconforto foi ampliado pela comunicação tardia da bolsa sobre um fato que poderia se considerado relevante para as decisões de compra e venda dos papéis da empresa. A condenação ocorreu no dia 13 de março, com publicação oficial no dia 15, mas o aviso ao mercado ocorreu apenas na noite de 27 de março.

O processo de 1999, referente ao socorro do banco Marka, consta do documento de abertura de capital da BM&F Bovespa como um risco "remoto" para bolsa. Mas, na opinião de advogados especializados, o risco se tornou palpável com a condenação e deveria ter sido comunicado ao mercado imediatamente após a sentença.

"A possibilidade remota de condenação deixou de existir a partir da condenação. Informar o mercado sobre isso é uma obrigação ética, moral e de transparência", diz o advogado Welinton Balderrama dos Reis, que representa sócios da BM&F.

O aviso tardio ao mercado poderia criar condições para que acionistas com informação privilegiada se beneficiassem com a negociação do papel antes que o mercado como um todo tomasse conhecimento. Entre os dias 14 de março e 27 de março, as ações ordinárias da BM&F Bovespa caíram 5,14%, enquanto o Índice Bovespa recuou 3,43%.

Questionada pelo Estado, a BM&F Bovespa disse que o tema não configura fato relevante, pois as sentenças foram proferidas em primeira instância e estão sujeitas a recurso. A bolsa diz continuar avaliando que "as chances de perda nos processos em questão são remotas".

"Embora não tivesse obrigação de divulgar o caso, após o conhecimento e análise das decisões, decidiu publicar o comunicado ao mercado de forma espontânea", informou a bolsa.