Título: Indústria precisa de câmbio a R$ 2,40 para ficar competitiva
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2012, Economia, p. B6/7

Bresser-Pereira, da FGV, apoia medidas do pacote mas diz que é preciso criar imposto sobre exportação de commodities

O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda, apoia as medidas do pacote, mas acha que só uma desvalorização para R$ 2,40 dará competitividade internacional à indústria brasileira. Para isso, ele defende a introdução de um imposto sobre a exportação de commodities.

O que o sr. achou do pacote?

Essas medidas são de política industrial. Eu sou a favor, porque todos os países fazem. Trata-se de apoiar estrategicamente determinados setores e empresas. Mas o que deve ser feito mesmo são medidas macroecônomicas que coloquem o câmbio no lugar.

Mas o governo está tentando intervir no câmbio.

Não, o governo não está disposto a fazer o que eu defendo no câmbio. Ele não sente suficiente apoio na sociedade para fazer - embora saiba que precisa fazer. Então ele vai tentando quebrar o galho, que são essas pequenas medidas. São boas, mas, a meu ver, não resolvem o problema. Para mim, a taxa de câmbio deveria estar entre R$ 2,30 e R$ 2,40, e ela está em R$ 1,80. A diferença é muito grande, e não é compensada em hipótese alguma por essas medidas.

O que deveria ser feito?

O Brasil está com um déficit em conta corrente de 2,5% do PIB, que é um absurdo. Um país como o Brasil, que tem doença holandesa (tendência à desindustrialização por causa do câmbio valorizado em função da receita externa de commodities), deveria ter superávit em conta corrente. O Brasil tem de pensar se quer crescer 3% ao ano, e com crise de vez em quando, ou crescer 5%, 6%, sem crise. E isso depende fundamentalmente de colocar o câmbio e os juros no lugar certo, em nível internacional.

Mas que câmbio é esse?

No meu modelo de doença holandesa, há três níveis para o câmbio. Aquele onde estamos, de R$ 1,80. Em seguida, o que chamo de equilíbrio corrente, que equilibra a conta corrente do País, zera o déficit. Que seria de R$ 1,90 a R$ 2, mais para R$ 2. E, enfim, a taxa de câmbio de equilíbrio industrial, que viabiliza indústrias usando tecnologia no estado da arte mundial. Que torna a indústria competitiva internacionalmente. Eu diria que é R$ 2,40.

Mas como levar o câmbio a esse nível?

Para empurrar o câmbio de R$ 1,80 para R$ 2,40, é preciso controlar a entrada de capitais mais fortemente, e tem que colocar um imposto sobre a exportação de commodities. Aliás, o que o controle de capitais pode fazer é levar o câmbio até o equilíbrio corrente, isto é, até R$ 2. Para levar do equilíbrio corrente ao industrial, tem de usar o imposto sobre a exportação de commodities.

E como seria esse imposto?

O imposto deve ser exatamente igual à diferença entre o equilíbrio industrial e o corrente. Se é de 40 centavos, esse deve ser o imposto para cada dólar exportado. Dada a minha teoria da tendência à sobrevalorização cíclica do câmbio nos países emergentes, por causa das entradas de capitais, há grande depreciação nas crises. Mas depois começa a apreciar, apreciar, aumenta o déficit em conta corrente, até que um dia acontece outra crise de balanço de pagamentos.