Título: Indústria elogia medidas, mas acha pacote insuficiente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2012, Economia, p. B6/7

Para os empresários, as medidas anunciadas pelo governo não resolvem os problemas de competitividade da indústria nacional

As medidas anunciadas ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foram apontadas como positivas, mas consideradas insuficientes para a maioria do setor industrial.

Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, as medidas não resolvem o problema da competitividade brasileira. "São medidas positivas? São. Não me decepcionam, mas também não me impressionam", criticou Skaf. "Considerando a realidade do custo que temos hoje no Brasil para produzir, que é mais caro que o americano, italiano, europeu, daqui a uns meses vamos precisar estar aqui (no Palácio do Planalto) de novo. Entendo que é um paliativo, não tá mexendo na ferida", criticou

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert, comentou que a entidade indicou integrantes para vários dos conselhos de competitividade instalados ontem. Ele, porém, tem dúvidas quanto aos resultados dessa iniciativa. "Se o governo ouvir o que sair das câmaras, vai dar certo", comentou. Para ele, no entanto, é provável que as medidas esbarrem em velhos problemas, como a falta de espaço na política fiscal para medidas mais ousadas. Ele avaliou que as medidas anunciadas são importantes, mas insuficientes, pois não resolvem os dois problemas mais graves da indústria, que são os juros e o câmbio. O ideal, segundo comentou, é que a cotação do dólar ficasse na casa de R$ 2,20 a R$ 2,30.

No mesmo tom, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) considerou as medidas positivas, mas ainda insuficientes para resolver todo o problema da indústria. "As medidas foram positivas, certamente causarão impacto no setor têxtil, mas precisam e devem ser evolutivas como disse a presidente Dilma. Vejo como uma clara demonstração de vontade política em favor da indústria. Contudo, não são algumas medidas pontuais que irão resolver toda a situação da indústria brasileira" declarou o presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho.

O presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, observou que outros países também estão trabalhando para ocupar mais espaço no mercado mundial, o que obriga o Brasil a um processo contínuo de busca de redução de custos de produção.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, avaliou que as medidas poderão reverter o quadro de baixo dinamismo da atividade industrial observada no início deste ano. "A indústria patinou em janeiro, fevereiro e março, grande parte devido às importações. Há a possibilidade de que, com as medidas, a indústria se recupere", afirmou. Ele frisou que o governo deixou em aberto a possibilidade de adotar novas medidas. Na sua avaliação, o ideal seria tentar elevar a cotação do dólar para R$ 1,90.

Desoneração. O presidente executivo da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, ficou decepcionado com o fato de o governo não ter beneficiado o setor de carnes com a desoneração da folha de pagamento, uma das medidas do Plano Brasil Maior. "Essa foi a grande falha do anúncio. Não achei injusta a exclusão do setor de alimentos como um todo", desabafou. "A desoneração é um fator preponderante para mantermos a competitividade do produto nacional. O setor de carnes já tem uma das cargas tributárias mais elevadas e esse benefício nos daria algum alívio."