Título: Criador do termo Bric não vê guerra cambial
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2012, Economia, p. B8

Jim O"Neill, do Goldman Sachs, discorda do ministro da Fazenda, Guido Mantega; para ele, países ricos adotam políticas com o objetivo de resolver crises domésticas

Conhecido globalmente por ter inventado o termo Bric (grupo composto por Brasil, Rússia, Índia e China), o presidente da Goldman Sachs Asset Management, Jim O" Neill, mantém-se otimista com as perspectivas para a economia brasileira. Mas, ainda que de forma cautelosa, faz reparos a atitudes práticas e retóricas do governo Dilma Rousseff.

A começar pela guerra cambial, "descoberta" e propalada mundo afora pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Não concordo (com Mantega) quanto à guerra cambial", afirmou, durante conversa com jornalistas ontem, em São Paulo.

"A maioria dos países deve perseguir uma política econômica que seja consistente com metas domésticas. No caso do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos), há um mandato legal para manter a inflação baixa e o desemprego mais baixo possível. Ou seja, não é foco do Fed o valor do dólar no mercado", argumentou.

Assim como o Fed, O" Neill avalia que os bancos centrais das outras duas grandes economias desenvolvidas em crise - Europa e Japão - também têm agido para corrigir problemas domésticos. "Portanto, não vejo uma guerra cambial. Aliás, usar a palavra guerra me parece um tanto perigoso, uma vez que remete à guerra comercial que se seguiu à Depressão dos anos 30 do século passado. Isso sem falar das próprias guerras reais."

O"Neill citou a Alemanha como um país que conseguiu manter o dinamismo do setor industrial apesar da valorização de sua moeda - antes o marco, e agora o euro. "A Alemanha tem se saído brilhantemente",disse. "Mostra que uma moeda forte não é necessariamente algo ruim."

O presidente da Goldman Sachs Asset Management disse que é difícil definir qual o tamanho ideal do setor industrial em uma economia. "Tomemos como exemplo os Estados Unidos. A indústria do país enfraqueceu nos últimos anos, mas, em compensação, algumas das principais empresas mundiais são americanas: Apple e Facebook, que são e também não são do setor manufatureiro."

O debate sobre desindustrialização, observou, não é exclusividade do Brasil neste momento. "O Reino Unido do pós-crise está obcecado com o aumento do tamanho da indústria."

Para O"Neill, o Brasil deveria se concentrar em três pilares para fortalecer a indústria: pesquisa e desenvolvimento, inovação e um mercado de trabalho mais flexível. O protecionismo, alertou, é um caminho a se evitar.

Ele evitou falar explicitamente que medidas recentes do governo brasileiro se encaixam no conceito. Mas deixou clara sua posição. "Não se conseguem benefícios econômicos duradouros protegendo-se da competição. O exemplo da Alemanha mostra que concorrência é algo bom."

Mesmo com essas ressalvas em relação à conjuntura global e brasileira, O"Neill se mostrou otimista com as perspectivas para a economia nacional. "O Brasil pode crescer 4%, se não mais, nos próximos cinco anos." Para este ano, a Goldman Sachs Asset Management projeta expansão de 3,6% no Produto Interno Bruto (PIB), número superior à média do mercado - que tem oscilado ao redor dos 3%.