Título: Crédito cresce mais do que o investimento
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2012, Economia, p. B1

O Tesouro Nacional emprestou, nos últimos quatro anos, o equivalente a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que transformou esses recursos em crédito ao setor privado. Mas a taxa de investimento do País não aumentou na mesma proporção. Pelo contrário: de 2010 para 2011, até mesmo caiu de 19,5% para 19,3% do PIB.

A injeção de recursos públicos no BNDES foi uma opção política do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para baratear o crédito para investimentos durante a crise financeira. A opção foi repetida pela presidente Dilma Rousseff no ano passado, no lançamento do Plano Brasil Maior, sua política industrial, e novamente agora, com a nova rodada de medidas de estímulo à indústria que serão anunciadas amanhã.

Diante desta escolha do governo, as críticas sobre a eficácia econômica dos empréstimos ao BNDES ganham cada vez mais relevância. Os principais questionamentos que surgem agora são se colocar crédito no BNDES significa garantia de maior investimento ou se o banco estaria apenas alterando a decisão de captação das empresas, que buscariam o crédito barato para outros usos, que não investimentos, como deseja o governo.

Para o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), Armando Castelar, é "inquestionável" que os fortes aportes do Tesouro Nacional ao BNDES - foram R$ 240 bilhões entre 2009 e 2012 - não estão ajudando a elevar de forma mais expressiva a taxa de investimento do País.

Obstáculos. Segundo Castelar, isso ocorre porque o governo se concentra no ponto errado: relatório da Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial para 2011 e 2012 mostrou que os empresários criticam a elevada carga tributária ( 19,3%), a regulação tributária (16,6%) e a má qualidade da infraestrutura nacional (15,1%) como as principais dificuldades de se investir no País.

Por outro lado, as condições de financiamento foram citadas por apenas 3,3% dos consultados como negativas no auxílio à expansão dos investimentos.

Outra explicação apontada pelo economista é o fato de que o BNDES empresta majoritariamente para grandes empresas. Segundo ele, os 160 maiores clientes do banco (em tamanho de empréstimos) respondiam por 85,2% do estoque total dos financiamentos concedidos.

"Essas empresas têm capacidade de pegar recursos em outros lugares. É muito provável que a grande maioria delas teria feito esses investimentos de qualquer forma", diz o economista.

Cresce a lista dos "órfãos do câmbio"

Mais setores industriais poderão solicitar financiamento ao BNDES dentro do Revitaliza. O programa foi lançando em meados de 2007 pelo governo federal para ajudar os setores industriais considerados "órfãos do câmbio". Passam a ser atendidos os fabricantes de calçados, de instrumentos de uso médico, odontológico e ótico, equipamentos de informática, material eletrônico e de comunicação, brinquedos, móveis e artefatos de madeira, palha, cortiça e vime.