Título: Faturamento cai e indústria já demite
Autor: Siqueira, Chico
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2012, Economia, p. B6

Crise no setor sucroalcooleiro começou a se desenrolar a partir da turbulência financeira mundial de 2008

A crise no setor - causada pela queda da rentabilidade, altos custos e quebra de safra, após uma crise internacional -, também teve efeitos devastadores na outra ponta da cadeia, a da indústria de base. "Embora os processos de fusões e aquisições tenham ocorrido nos dois últimos anos, a realidade é que nenhuma nova decisão sobre expansão da capacidade da indústria foi tomada desde 2007", diz José Luiz Olivério, vice-presidente da Dedini, empresa líder na venda e instalação de equipamentos, peças e usinas completas de açúcar e álcool.

"As expansões que ocorreram nos últimos anos foram frutos de decisões de ampliações tomadas até 2007. Eram projetos que foram dados continuidade, mas nenhum novo surgiu desde então", diz. "A partir de 2008, não houve decisão sobre projetos de expressão de novos greenfields. Quatro deles, que entraram em operação até 2011 eram de decisões tomadas antes de 2008", diz o especialista. "O que houve de lá para cá, foram apenas projetos de diversificação de empresas, nenhum de ampliação da capacidade. E projetos de grandes grupos que consolidaram as aquisições", completa Oivério.

Neste período, a Dedini reduziu seu faturamento e teve de diversificar sua atuação para não cair na vala da crise. De 2008 a 2011, a Dedini teve reduzido em 73% seu faturamento com o setor, caindo de R$ 1,5 bilhão em 2008 para R$ 400 milhões em 2011. A consequência veio na redução do pessoal: dos 6,5 mil funcionários que tinha em 2008, a Dedini tem apenas 3,5 mil em 2011, uma redução de 46%. "Não houve alternativa senão optarmos por aumentarmos a participação em outros setores, como os de alimentação, bebidas e tratamento de afluentes", contou Olivério.

Para Olivério, o fato de a indústria viver um momento de pouca oferta de cana, não representa a realidade do setor, que continuará sendo obrigado a sustentar alta demanda de etanol. "A falta de cana é uma visão míope. Não há ociosidade. O problema da falta de cana decorre da falta de renovação de canaviais e de tratos culturais nas plantações, mas a demanda existe e continuará alta. E para que saíamos da crise é preciso estabelecer políticas paralelas de recuperação no campo e na indústria", disse. Para isso, segundo ele, o governo precisa definir sua política de matriz energética para que os investidores tenham confiança em voltem a investir no setor.

De acordo com Olivério, em 2012 a Dedini não vendeu um único equipamento para ampliação da capacidade das usinas. "Podemos afirmar que neste momento não há um único projeto de ampliação da capacidade da indústria em andamento", afirma.

Mas como não existe mal que dure para sempre, um movimento inverso deve ocorrer a partir do final deste ano. "É o que nos indicam os contatos comerciais, que a partir do terceiro e quarto trimestres, novas ampliações deverão ser iniciadas. Nossos clientes estão pedindo atualização de orçamentos de projetos que estavam suspensos para novas encomendas", diz. / C.S.