Título: Vendas de carro zero ficam estagnadas
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2012, Economia, p. B4

Após oito anos de alta, negócios com veículos 0 km recuam 0,8% no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período de 2011 As vendas de veículos novos recuaram 0,8% entre janeiro e março em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o primeiro declínio, mesmo que modesto, desde 2003 na comparação do primeiro trimestre com o mesmo período do ano anterior. Ao todo, foram licenciados 818,4 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.

Com esse resultado, que interrompe oito anos seguidos de crescimento de vendas no primeiro trimestre, montadoras e revendedores esperam que o governo federal adote no curto prazo medidas de incentivo ao consumo, especialmente em relação ao crédito.

No anúncio que fará hoje do pacote de incentivo à indústria, a presidente Dilma Rousseff não deve, porém, se ater a temas ligados ao consumo. Mas ela deve divulgar os critérios do novo regime automotivo que trará, por exemplo, normas de flexibilização para novas montadoras que querem se instalar no País.

Crédito. Só no mês de março foram vendidos 300,6 mil veículos, 1,8% a menos que em igual mês de 2011, mas 20,4% mais que em fevereiro, mês que teve menor número de dias úteis por causa do carnaval. Já a queda em relação a março de 2011 é preocupante para o setor pois o número de dias úteis neste ano foi maior.

Para o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Flávio Meneghetti, o principal motivo da queda é a falta de crédito. "Os bancos afunilaram o crédito, principalmente para carros de entrada (os mais baratos) e modelos usados."

Segundo ele, os planos de 60 meses sem entrada, que impulsionaram as vendas nos últimos anos, "praticamente desapareceram". A elevação de 30 pontos porcentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados também teve algum impacto nas vendas, avalia o executivo.

O recuo dos bancos se deu em grande parte por causa da alta da inadimplência, que em fevereiro chegou a 5,5% dos contratos, o dobro do índice de um ano atrás. Os atrasos acima de 90 dias ultrapassaram o índice de 4,9% de 2009, no auge da crise global.

"Já prevíamos um esfriamento do mercado no começo do ano, mas não contávamos com esse elevado grau de inadimplência", diz Meneghetti. Como resultado, de cada dez fichas que os lojistas enviam aos bancos, somente quatro a cinco são aprovadas. "A demanda por carros existe, o que falta é o crédito."

Apesar do recuo neste início de ano, o resultado do primeiro trimestre é o segundo melhor da história, atrás de 2011, quando foram vendidos 825,1 mil veículos.

A Fenabrave espera que os bancos voltem a liberar mais crédito só no segundo semestre. Até lá, espera que o governo anuncie medidas de apoio ao consumo, para evitar altos estoques e queda na produção. Hoje, há estoques para 40 dias - bem acima da média considerada saudável pelo setor, de cerca de 30 dias.

Meneghetti vai esperar o fim do mês para rever projeções de vendas para 2012. Por enquanto, mantém a perspectiva de alta de 5% em relação ao 2011, para cerca de 3,8 milhões de unidades.