Título: União Européia fecha acordo e amplia proteção contra crises para € 800 bi
Autor: Netto, andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/03/2012, Economia, p. B1

Pressionada pela comunidade internacional desde novembro de 2011 a elevar os recursos da proteção (firewall) contra a crise das dívidas soberanas, a União Europeia anunciou ontem que vai dotar o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) de um total de € 800 bilhões.

O valor é o 60% maior do que o fundo dispOlia partir de julho, quando entrará em operação, mas ainda assim é inferior ao trilhão de euros desejado pelos mercados. A decisão pode abrir caminho para outra recapitalização: a do Fundo Monetário Internacional (FMI), que pode ter participação do Brasil.

A nova composição do mecanismo foi definida no fórum de ministros de Finanças da zona do euro (Ecofin), ontem, em Copenhague, Dinamarca. Ao contrário das reuniões intermináveis em Bruxelas, o encontro dos executivos foi rápido e objetivo.

No meio da tarde, a fórmula que vai permitir ao MEE elevar seus recursos foi anunciada pela ministra de Finanças da Áustria, Maria Fekter. Além dos € 500 bilhões.originais, o mecanismo receberá € 200 bilhões do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) -que deixará de existir. Completam os recursos € 49 bilhões do Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (Mesf), também a ser extinto, e outros € 53 bilhões em empréstimos bilaterais que integravam o primeiro pacote de socorro à Grécia - ou quase a metade dos € no bilhões daquele resgate.

Na saída da reunião, os executivos europeus comemoraram a definição. "Nós tomamos uma decisão muito importante para longo prazo", avaliou o comissário Europeu de Relações Econômicas, Olli Rehn.

Para o"ministro da Economia da França, François Baroin, a decisão cria uma proteção extra para a zona do euro contra a crise das dívidas. "O firewal! é um pouco o que uma arma nuclear representa no plano militar: é feito para não ser utilizado, como um instrumento de dissuasão."

Dúvidas. Os "novos" recursos do MEE, porém, não são tão novos como parecem. Na realidade, a decisão dos ministros de Finanças espelha a intransigência da Alemanha, que não aceitava ampliar os recursos do fundo até o trilhão recomendado por analistas - valor que poderia permitir ao fundo enfrentar a hipótese de resgate de uma potência maior, como a Espariha.

Na verdade, dos € 800 bilhões, € 300 bilhões foram comprometidos no socorro a Grécia, Irlanda e Portugal. Logo, a capacidade real do fundo não teria mudado. "Lembremos que a capacidade residual do MEE será de € 500 bilhões", diz Thibault Mercier, analista do banco francês BNP Paribas.

O MEE deve começar a operar em julho, mas só será plenamente operacional em 2014, quando o processo de capitalização terá sido encerrado.