Título: Fazenda prevê inflação acomodada
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2012, Economia, p. B4

Para o secretário de Política Monetária da Fazenda, Marcio Holland, o IPCA vai atingir o centro da meta este ano e também em 2013

Apesar da expectativa do mercado financeiro de nova pressão de preços no próximo ano, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcio Holland, previu uma acomodação da inflação no centro da meta não só em 2012 como também em 2013.

Em entrevista ao Estado, Holland afirmou que novos estudos mostram que o processo de reajuste automático de preços com base na inflação passada, a chamada inércia inflacionária, é bem menor hoje no Brasil.

Além disso, os analistas econômicos têm dado pouca atenção aos efeitos do aumento da potência da política monetária no controle dos preços.

Essa potência maior faz com que as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) tenham força e alcancem os resultados esperados de forma mais eficiente na economia real, por meio dos chamados "canais" de transmissão, como o crédito para as famílias e os juros cobrados das empresas.

A desobstrução desses canais de transmissão, afirmou Holland, está ajudando no controle da inflação e na sua convergência para o centro da meta, de 4,5%. Os instrumentos de indexação (vinculação sistemática de correção de preços à variação da inflação) da economia, afirmou ele, também estão mais reduzidos.

"A inflação se acomoda no centro da meta em 2012 e 2013", disse Holland. "Vamos trabalhar para isso. Essa é a expectativa", afirmou o secretário, enfatizando o compromisso do governo de garantir a convergência da inflação para o centro da meta.

Segundo Holland, o resultado de 0,21% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em março, divulgado no fim da semana passada, mostrou um recuo significativo dos preços e indicou de forma mais clara o processo de "descompressão" da inflação rumo ao centro da meta, movimento que ocorre, segundo ele, desde maio de 2011.

Para o secretário, os dados do IPCA de março não chegaram a surpreender o governo, que sempre esteve confiante no controle da inflação, mas representaram um "alívio".

Abril. O resultado do IPCA de abril continuará favorável, segundo Holland. O índice, previu ele, deverá apresentar resultado bem menor que a alta de 0,77% no mesmo período de 2011.

Para o secretário, o aumento da potência e eficiência da política monetária precisa ser mais bem observado pelos economistas. "Nós conseguimos hoje uma potência maior do manejo das variáveis de instrumentos macroeconômicos." Em grande parte, avaliou ele, esse movimento está ocorrendo por causa da melhora da política fiscal do País. "Superamos o problema fiscal e as restrições que ele impunha à política monetária", avaliou Holland.

Os avanços na composição da dívida pública, com a redução do volume de títulos com vinculação à taxa Selic, segundo o secretário, também têm aumentado de forma relevante a potência da política monetária.

Ele lembrou que a dívida do setor público, que estava em 60% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2002, caminha na direção de 35%. "Temos agora um canal de transmissão que flui com mais eficiência", disse Holland.

Na avaliação do secretário de Política Econômica, a permanência da inflação em níveis mais baixos e controlados, desde 2005, também tem ajudado a aumentar a potência da política de juros. "Quando a inflação é baixa por um período prolongado, começam a se dissolver os instrumentos de desindexação. São sete anos de inflação controlada."

Na opinião de Holland, o grau de liberdade de preços (sem nenhum mecanismo automático de reajuste) é maior na economia, o que é positivo para o controle da inflação. O peso desses chamados preços livres é hoje maior na inflação. "O componente inercial da inflação é cada vez menor no Brasil."