Título: A produção industrial em fevereiro e os estoques
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2012, Economia, p. B2

A produção física da indústria entre janeiro e fevereiro, segundo o IBGE, apresentou crescimento de 1,3%. Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI), cujos dados excluem a mineração, mostra que o faturamento real do setor em termos dessazonalizados cresceu 1,5%. Como se vê, as duas fontes apresentam aumentos muito semelhantes.

Porém os dados da CNI fornecem informações mais completas: empregos, horas trabalhadas, massa salarial, rendimentos e utilização da capacidade instalada - que exibem uma imagem mais adequada da evolução da produção manufatureira.

Esses dados permitem concluir que a recuperação da indústria é ainda muito frágil e, ao que parece, o fator determinante foi a redução dos estoques, que pelo menos teve a vantagem de aliviar os problemas de financiamentos.

De fato, nem todos os dados estão indo na mesma direção: se o faturamento real cresceu 1,5%, as horas trabalhadas aumentaram ainda mais (2,2%), enquanto o emprego ficou igual. A conclusão que se poderia tirar desses números é de que estamos diante de um aumento da produtividade, já que com o mesmo nível de emprego tivemos um aumento da produção. No entanto, registramos que as horas trabalhadas aumentaram mais do que o faturamento, o que leva a pensar que foram os estoques que esssencialmente diminuíram. E a evolução da utilização da capacidade instalada confirma essa hipótese. Além disso, a massa salarial, como o rendimento médio real, diminuiu 0,7%.

A situação da indústria continua apertada: a produção industrial acusa no mês queda real do faturamento de 3,3%, em relação ao mesmo mês de 2011. Aliás, uma análise dos diversos setores mostra que nem todos evoluíram. Ao contrário, dos 20 setores, apenas 9 apresentam expansão, enquanto 11 tiveram produção em baixa, quando comparada à do mesmo mês de 2011.

Os setores que mais cresceram foram o de material eletrônico e comunicações (37,7%); o de madeira (16,8%), que reflete a demanda da construção civil; e os de máquinas e aparelhos elétricos e de papel (13,1%). Em compensação, dois setores acusaram forte queda: móveis (15,2%) e veículos automotores (24,2%). No caso do material eletrônico, estamos diante de uma reconstituição de estoques, enquanto no dos veículos, onde há sempre estoques altos, verificamos uma certa saturação, apesar das férias coletivas de janeiro, porque em fevereiro a produção de veículos continuou baixando.