Título: Espanha puxa queda de bolsas mundiais
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2012, Economia, p. B8

Madri fecha no nível mais baixo em três anos e dúvidas com Itália e recuperação americana também entraram no radar dos investidores

Os mercados mundiais desabaram ontem com temores de que a Espanha não encontre uma solução para financiar sua dívida e tenha de ser resgatada pela União Europeia, além das suspeitas de que a recuperação da economia dos Estados Unidos pode ser mais frágil do que se espera.

Em praticamente todos os mercados, investidores fizeram vendas massivas de ações, em meio ao sentimento de que as últimas medidas anunciadas por Espanha e Itália ainda não foram suficientes para superar o déficit desses governos.

Há uma semana, o governo de Mariano Rajoy anunciou o maior corte de gastos da história democrática da Espanha, de 27 bilhões. Há dois dias, indicou que cortaria mais 10 bilhões na saúde e na educação. Mas nada disso convenceu e o clima de relativa calma desde o calote grego em fevereiro parece fazer parte do passado.

A Bolsa de Madri fechou no nível mais baixo em três anos, com queda de 3,0%, enquanto a taxa de risco chegou ao maior nível desde que o Banco Central Europeu (BCE) injetou 1 trilhão nos bancos para aliviar a crise na UE. Ontem, o risco país espanhol bateu a marca de 6,0%. "A Espanha está no centro de uma tempestade europeia", admitiu o ministro de Finanças Luis de Guindos, que não afastou a possibilidade de pedir um resgate.

O retorno (yield) dos bônus espanhóis de 10 anos atingiu 5,93%, nível que não era observado desde antes das operações de liquidez do BCE, em dezembro.

A Espanha é o quarto maior mercado da zona do euro e um resgate teria um custo muito superior ao que já custou aos cofres da UE os planos de socorro para Grécia, Irlanda e Portugal. Rajoy admitiu no Parlamento que "muito do futuro da Espanha está em jogo", enquanto o presidente do banco central do país, Miguel Angel Fernández Ordóñez, alertou que os bancos espanhóis poderão precisar de mais um socorro do Estado se a economia não voltar a crescer.

Em três anos de cortes, a economia ficou sufocada e o desemprego atinge 23% da população. "O governo espanhol parece estar perdendo a guerra para restaurar sua credibilidade, enquanto cada nova medida de austeridade apenas serve para alimentar a recessão", alertou Jane Foley, analista do Rabobank.

Outros focos. As dúvidas também recaem sobre a capacidade de o governo italiano implementar suas reformas. Em Milão, a bolsa perdeu 5,0%. Também as eleições na Grécia, no começo de maio, e na França, neste mês, impactaram os mercados. Paris, Londres e Frankfurt perderam mais de 2,0%. Para analistas, a intervenção do BCE na economia apenas "ganhou tempo". "A injeção não resolveu os problemas estruturais da Europa", afirmou a consultoria britânica Fathom.

O clima tenso também foi sentido em Wall Street, preocupada com o impacto da recuperação americana, mais lenta e frágil do que se esperava. Na semana passada, números sobre a criação de emprego afetaram a confiança dos investidores e reforçaram a tese de que uma recuperação sólida das economias dos países ricos poderá ainda levar meses.

O euro perdeu terreno e analistas alertam que a moeda pode continuar sob pressão nos próximos meses. Já na Alemanha, o risco país despencou para o menor nível desde a criação do euro, num sinal de que investidores estão migrando para papéis mais seguros e de refúgio, diante da nova onda de temor.