Título: Não vai ser fácil reduzir taxa, dizem analistas
Autor: Dantas, Iuri
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2012, Economia, p. B3

O plano do governo para reduzir a taxa de juros praticada no mercado é reduzir o custo do dinheiro emprestado pelos bancos públicos, e torcer para que as instituições privadas sigam o mesmo caminho. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal colocam em prática seus pacotes de corte de juros em linhas de financiamento esta semana.

Especialistas, no entanto, alertam sobre dificuldades na implementação do modelo, que tem o apoio do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Segundo Aruam Andriolo, consultor da Associação Nacional das Cooperativas de Crédito (ANCC), Caixa e BB são "bancos comerciais, que têm acionistas que querem lucro e uma parte do lucro vem dos juros altos".

Para Newton Marques, professor de economia do Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinares da Universidade de Brasília, "a saída para reduzir os juros é os bancos públicos puxarem as taxas para baixo". A conta desta estratégia, no entanto, pode acabar indo para o contribuinte: o Tesouro Nacional precisaria injetar recursos públicos para manter a saúde financeira das instituições, segundo Marques.

Estabilidade. Segundo as normas de estabilidade financeira, os bancos precisam manter uma parte de seu capital reservada para o caso de eventuais perdas. Logo, avaliou o economista, será preciso que o Tesouro coloque mais dinheiro à disposição dos bancos públicos para que eles ampliem a oferta de crédito, a juros mais baixos, e ao mesmo tempo consigam cumprir as normas de governança.

Na avaliação de José Ricardo da Costa e Silva, professor de economia do Ibmec, o uso de bancos públicos deve ser feito de forma gradual e responsável, sem pressão do governo. "Pode-se buscar isso, mas forçar é uma atitude gravíssima, semelhante ao que se fazia no passado, quando as estatais eram forçadas a manter os preços baixos de seus produtos e não deu certo."

Não é a primeira vez que o governo força uma queda dos juros praticados pelos bancos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, lançou o empréstimo com desconto na folha de pagamento (consignado), mas a modalidade não conseguiu pressionar redução de juros em outras operações. / I.D.