Título: BB e Caixa dizem que têm menos calotes
Autor: Nacakawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2012, Economia, p. B3

Bancos públicos enfrentam mais atrasos no curto prazo, mas inadimplência acima de 90 dias é menor que a média de mercado

Apesar de concentrarem um volume maior de empréstimos com atrasos no curto prazo, instituições como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal têm um número menor de clientes que não pagam o que devem há mais de 90 dias. A maior concentração de empréstimos nas faixas de risco mais alto não é entendida pelos bancos estatais como motivo para preocupações porque a inadimplência acima de 90 dias seria mais baixa.

Pelos critérios do Banco Central, o cálculo da taxa de inadimplência só leva em consideração as operações que não foram quitadas há, no mínimo, três meses.

Dívidas em atraso inferior a 90 dias, não entram na conta de inadimplência do BC, mas ficam numa faixa intermediária de classificação de risco. Se um determinado empréstimo está com um atraso entre 15 e 30 dias, ele recebe uma nota "B". A nota vai piorando à medida em que o prazo sem pagamento se estende. A nota "H", a pior da escala do BC, é dada para os atrasos de mais de seis meses.

Em dezembro de 2011, a inadimplência nas operações para pessoas físicas estava em 6,3% no Banco do Brasil e em 4,9% na Caixa, segundo o balanço das duas instituições financeiras. O nível de calote nos dois casos é menor que a média do mercado, que, segundo o levantamento do BC, amargava inadimplência de 7,4% naquele mesmo mês.

Risco. "Praticamente todos os indicadores de qualidade de crédito do BB melhoraram quando comparados a dezembro de 2010. Ao comparar as operações classificadas por níveis de risco, o BB também apresenta uma estrutura de crédito melhor que o mercado. As operações classificadas nos níveis de risco de AA-C encerraram dezembro de 2011 em 93,9% do total da carteira, ante 92,3% no mercado", destaca o balanço do banco.

Em linha de defesa semelhante, a Caixa afirma em seu balanço que "em 2011, mais de 90% das operações de crédito estavam concentradas nos ratings de AA até C, e a inadimplência total do crédito na Caixa manteve-se estável".

Exageros. Apesar de observar com alguma ressalva a ofensiva dos bancos públicos, o professor de Finanças do Insper, Ricardo José de Almeida, diz que o movimento é "legítimo". "O governo avalia que os spreads estão elevados e usa seu arsenal para mudar o quadro. Só é preciso ter atenção para evitar exageros, como deixar que a dívida fique impagável. Se houver calote generalizado, a sociedade é que vai pagar."

Mas Almeida faz uma ressalva: diz que o Banco do Brasil, que também tem acionistas privados na Bolsa de Valores de São Paulo, deveria ser poupado dessa estratégia. "A Caixa é o banco para isso, pois é 100% público", diz, ao reconhecer que os públicos foram bem sucedidos na crise de 2008 e 2009 ao ampliar o crédito e incentivar a economia.

Procurados, BB e Caixa não responderam os pedidos de entrevista sobre o tema.