Título: Mensalão esquenta bastidores do Supremo
Autor: Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/04/2012, Nacional, p. A8

Um clima marcado por trocas veladas de acusações e cobranças tomou conta do Supremo Tribunal Federal (STF) na trilha do julgamento do mensalão. Na semana passada, uma demonstração clara dessa crise: o ministro Ricardo Lewandowski bateu boca com Gilmar Mendes no intervalo da sessão, incomodado por ser cobrado pelo colega nas páginas dos jornais. Para evitar que a discussão se agravasse, Luiz Fux viu-se obrigado a intervir.

À espera do julgamento, parte dos ministros cobra publicamente de Lewandowski a liberação em algumas semanas do processo do mensalão. O risco, dizem, é o de que o julgamento tenha de ser adiado para 2013 se não for julgado até o fim de junho. Para esse grupo, a composição desfalcada do tribunal - Cezar Peluso se aposenta até o fim de agosto - e as eleições em outubro adiariam a conclusão do caso.

Esses ministros dizem ainda que Lewandowski, por ser revisor do processo, deveria ter começado a analisar o caso desde o fim da instrução da ação penal, quando concluída a coleta de provas, depoimentos de testemunhas e alegações finais.

De outro lado, alguns ministros dizem ser possível julgar o caso a partir de agosto, mesmo que para isso o ritmo do julgamento tenha de ser reduzido, já que seis membros do STF terão de se dividir entre a Corte e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, perguntam por que a pressa em julgar um processo específico com centenas de inquéritos e ações penais na fila.

"Esse é um processo igual aos outros", afirma, por exemplo, o ministro Marco Aurélio Mello.

Na troca velada de suspeitas, ministros questionam a postura do próximo presidente da Corte, Carlos Ayres Britto. Três deles demonstram insatisfação com o que classificaram de interferência. Um deles diz que Britto, ao propor o julgamento no recesso de julho, quer uma sobrevida à sua curta gestão - ele se aposenta em novembro.

Outro ingrediente da discussão é o risco de prescrição dos crimes. Parte dos ministros afirma que a eventual demora de Lewandowski poderia levar à prescrição de algumas penas. /F.R.