Título: Com ajuda de Demóstenes, Cachoeira nomeou prima no governo de Minas
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2012, Nacional, p. A4

Influência. Senador, então líder do DEM, recorreu ao colega e ex-governador Aécio Neves (PSDB) para emplacar Mônica Silva Vieira, parente do contraventor, em diretoria regional de Uberaba (MG) na atual gestão Anastasia; tucano afirma que desconhecia o parentesco

Escutas telefônicas da Polícia Federal revelam que o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) intercedeu diretamente junto a seu colega, Aécio Neves (PSDB-MG), e arrumou emprego comissionado no governo de Minas para uma prima do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Mônica Beatriz Silva Vieira, a prima de Cachoeira, assumiu em 25 de maio de 2011 o cargo de diretora regional da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) em Uberaba. Do pedido de Cachoeira a Demóstenes até a nomeação de Mônica bastaram apenas 12 dias e 7 telefonemas. Aécio confirma o empenho para atender à solicitação de Demóstenes, mas alega desconhecer interesse de Cachoeira na indicação (leia texto nesta página). São citados nos grampos o deputado federal Marcos Montes (PSD), ex-prefeito de Uberaba, e Danilo de Castro, articulador político de Aécio em seu Estado e secretário de Governo da gestão Antonio Anastasia (PSDB), governador de Minas. A PF monitorou Cachoeira, a prima dele e Demóstenes na Operação Monte Carlo, que desmantelou esquema de contravenção, fez ruir a aura de paladino do senador goiano e expôs métodos supostamente ilícitos da Delta Construções para atingir a supremacia em sua área.

Professor e doutor . Aécio não caiu no grampo porque não é alvo da investigação. Mas ele é mencionado por Demóstenes e Cachoeira. Nos diálogos, o contraventor chama Demóstenes de “doutor” e o senador lhe confere o título de “professor”. O grampo que mostra a ascensão profissional da prima de Cachoeira está sob guarda do Supremo Tribunal Federal (STF), nos autos que tratam exclusivamente do conluio de Demóstenes com o contraventor. Em 13 de maio de 2011, Aécio é citado. Cachoeira pede a Demóstenes para “não esquecer” o pedido. “É importantíssimo pra mim. Você consegue pôr ela lá com o Aécio... em Uberaba, pô, a mãe dela morreu. É irmã da minha mãe.” Demóstenes: “Tranquilo. Deixa eu só ligar pro rapaz lá. Deixa eu ligar pra ele.” A PF avalia que o caso pode caracterizar tráfico de influência. “Seguem ligações telefônicas, divididas por investigado, em ordem cronológica, que contêm indícios de possível cometimento de infração penal por parte de seus interlocutores ou pessoas referidas.” Na síntese que faz da ligação de Cachoeira a Mônica, a 26 de maio – o contato durou 3 minutos e 47 segundos –, a PF assinala: “Falam sobre a nomeação de Mônica para a Sedese/MG, conseguida por Cachoeira junto ao senador Aécio Neves por intermédio do senador Demóstenes Torres e de Danilo de Castro.”

DIÁLOGOS

20 de maio de 2011 - 20h47

Cachoeira: Oi, doutor. Demóstenes: Seguinte, o Aécio arrumou o trem lá. É, e vão dar pro deputado um outro car-go. Agora, ele perdeu o currícu-lo da mulher, então na hora que eu chegar aí você me dá o nome inteiro dela e o telefone pra eles ligarem, falou?

Demóstenes Torres conversa com Carlinhos Cachoeira

Cachoeira: Então tá, então. Qual cargo que é, você sabe? Demóstenes: O que você pediu, ué. Cachoeira: Hã. Então tá bom. Chega aqui eu já levo pra você, tá vindo? Demóstenes: Tô indo, um abraço. Cachoeira: Outro.

Mônica Vieira aparece em duas conversas com Cachoeira

21 de maio de 2011 – 12h05 Cachoeira: Eles vão te ligar aí, tá? O governador deu o OK aí no seu emprego aí de chefia. Mônica: Hum. Cachoeira: O Aécio acabou de ligar pro senador aqui, viu? Mônica: Então tá. Cachoeira: Já pegou seu telefo-ne, mas fica com o telefone liga-do que eles vão te ligar. Alguém do governo vai te ligar.

26 de maio de 2011 – 22h00 Cachoeira: A pessoa te ligou? Mônica: Ligou, ligou no sába-do de manhã. Cachoeira: Quem foi? Mônica: O Danilo de Castro. Cachoeira: Ele é forte ali. Mônica: ... secretário de Gover-no, isso. Daí me fez umas per-guntas... Cachoeira: Sim, mas qual car-go? Mônica: Diretor regional do Sedese. Cachoeira: Uai, bom demais, onde é que fica esse, melhor ain- da do que você queria. Mônica: Nossa, eu fiquei feliz demais, inclusive tenho que agradecer muito, né? Cachoeira: A pessoa que vai sair do cargo é que não vai gostar, né? Mônica: Eu falei isso com o Danilo. Falei: ‘Danilo, eu não queria que prejudicasse a pessoa, ainda mais se for pai de família’. Ele falou: ‘Você não se preocupe com isso porque nós já arrumamos um cargo, me parece que ele vai ficar até lá mesmo’. Cachoeira: É o Aécio, viu? Direto com o Demóstenes, viu? Mônica: Isso, ele falou que era uma solicitação do Aécio, ele enfatizou isso bem: ‘É uma solicitação do senador Aécio, através do senador Demóstenes e com o aval do governo Anastasia, bem claro, né? Mas eu te agradeço muito, muito mesmo!...