Título: Sarkozy e Hollande afinam plano para seduzir eleitorado da extrema direita
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2012, Internacional, p. A10

Vencedores do primeiro turno retomam campanha para atrair apoio da Frente Nacional, cuja candidata, Marine Le Pen, obteve 17,9% dos votos

Os dois finalistas na eleição presidencial da França, o chefe de Estado Nicolas Sarkozy e o socialista François Hollande, lançaram-se ontem à caça dos eleitores de extrema direita. Os vitoriosos retomaram suas campanhas menos de 12 horas após o resultado do domingo, que apontou Hollande como favorito.

Transformada em fiel da balança, a extremista Marine Le Pen descartou a possibilidade de apoiar o presidente. A candidata da Frente Nacional obteve 17,9% dos votos. Sarkozy, de centro-direita, depende da migração dos eleitores de Marine para conseguir superar a atual vantagem do rival socialista.

A campanha foi retomada por Hollande pela manhã, em Paris, onde ele havia chegado no início da madrugada para reuniões com o comando do Partido Socialista (PS). Antes de partir para comícios no interior, o vencedor do primeiro turno, com 28,6% dos votos, garantiu que trabalha para reunir o apoio de todos os candidatos de esquerda – 6 de um total de 10 –, além de buscar votos no centro e também na extrema direita.

"Teremos o total de votos reunidos pelos candidatos da esquerda e outros vão se somar", garantiu, evitando o clima de vitória. "Estamos confiantes, mas cabe aos franceses decidirem seu destino."

Sarkozy obteve 27,2% dos votos no domingo – menos do que em 2007, quando conseguiu 31,18% –, tornando-se o primeiro presidente candidato à reeleição a perder um primeiro turno na história das eleições diretas na França. Para reverter o mau resultado, o presidente adaptou seu discurso, radicalizando-o à direita na tentativa de captar eleitores de Marine.

"É preciso ouvir o voto dos eleitores. É o voto da crise e é preciso lhe da uma resposta", assegurou, em comício no interior. "Eu quero falar aos pequenos, aos aposentados, aos agricultores que não querem morrer, aos trabalhadores que não querem que aquele que não trabalha ganhe mais do que ele."

A candidata de extrema direita, embora não tenha declarado apoio a nenhum dos finalistas, centrou críticas a Sarkozy. Marine acusou o presidente de não ter se importado com as bandeiras da Frente Nacional durante seus cinco anos de mandato.

"Os eleitores querem protecionismo, segurança e imigração zero", disse ela, em entrevista à rede France 2. "Sarkozy não só permitiu a imigração, mas também deu documentos a estrangeiros para que eles possam votar na França."

Sem apoio oficial da Frente Nacional, Sarkozy tem uma estreita margem de manobra para vencer as eleições, segundo analistas ouvidos pelo Estado. Para eles, a estratégia do partido radical é apostar na derrota da União por um Movimento Popular (UMP), de Sarkozy, para tentar se tornar a nova direita da França. Para isso, a direção da Frente Nacional planeja trocar de nome e absorver partidos nanicos, dissociando-se dos rótulos da extrema direita e da xenofobia.

Segundo os analistas, o total de votos em favor de candidatos da direita, com Sarkozy à frente, chegou a 46,85% no domingo. Já os nomes da esquerda, com Hollande em primeiro lugar, somaram 44%. Mas a transferência de votos não se dá de forma mecânica.

Pesquisas realizadas desde a noite de domingo com eleitores de dois candidatos, Marine e o centrista François Bayrou, indicam que o socialista é favorecido pelo alto índice de transferência de votos de outros eleitores da esquerda, além de obter cerca de um terço do eleitorado de Bayrou – índice idêntico ao de Sarkozy. Por fim, ele capta quase 20% do eleitorado de Marine, uma fatia da população francesa que é profundamente "anti-Sarkozy".

De sua parte, o presidente conta com cerca de 60% dos votos da extrema direita e um terço dos de Bayrou. Essa reserva, porém, não é suficiente para bater Hollande.

"Sarkozy não tem margem de manobra além de tentar jogar um campo contra outro, dividindo o eleitorado francês em dois", diz Madani Cheurfa, do Centro de Pesquisa Política (Cevipof), de Paris.