Título: Espanha tem 2ª recessão em três anos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/04/2012, Economia, p. B3

Banco central espanhol já prevê desemprego de 25%; PIB do país recuou 0,4% no primeiro trimestre do ano, depois de cair 0,3% no anterior

Pela segunda vez em três anos, a Espanha entra em recessão e o banco central do país já prevê que 25% dos espanhóis estão desempregados, taxa que ainda tende a crescer. A crise é a pior da história de-mocrática do país e já custou a cabeça do governo socialista, no fim de 2011. Agora, dados re-velam que a contração não aca-bou e, até o verão europeu, vai se aprofundar e dificultar ain-da mais o projeto do governo de atingir o equilíbrio fiscal. Os dados marcam o fim de uma recuperação modesta entre 2010 e 2011. Entre janeiro e mar-ço deste ano, o PIB espanhol sofreu contração de 0,4%. Esse é o segundo trimestre de queda, o que constitui oficialmente uma recessão. No fim de 2011, a queda havia sido de 0,3%. Anualizada, a queda no primeiro trimestre de 2012 foi de 0,5%. A previsão do BC espanhol é de que, na melhor das hipóteses, a economia local recue 2% em 2012. Em 2009, a queda havia sido de 3,7%. A Espanha viveu uma década de expansão até 2008, quando passou a ser o país mais afetado pela crise na Europa. O desemprego passou de 1,7 milhão de pessoas para mais de 5 milhões. Entre janeiro e março, 290 mil postos de trabalho extras foram abolidos e a previsão já indica que 24% da população estará sem trabalho até julho. Atolada por uma dívida que já faz o mercado especular sobre um eventual resgate da UE e do FMI, o governo de Mariano Rajoy insiste que poderá sair da crise sozinho. Mas, para isso, promoveu um corte de € 27 bilhões no orçamento e promete economizar mais € 10 bilhões em saúde e educação. Tudo isso para que, em 2013, o déficit esteja dentro dos níveis exigidos pela UE. O problema é que a austeridade está cobrando um preço alto na economia real, assim como já ocorreu na Grécia e em Portugal. Com salários r eduzidos, de- semprego e dificuldade em obter empréstimos, o consumo do-méstico em forte queda de 0,9% foi a principal causa da volta da recessão. O consumo privado caiu 0,4%, importações desabaram, enquanto investimentos foram reduzidos em 3,5%. Houve também queda nos investimentos públicos, o que vai se aprofundar ainda mais nos próximos meses, quando o corte de orçamento começará a ser sentido. O próprio Brasil já foi afetado por essa queda no consumo. Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) apontam que as exportações nacionais à Espanha recuaram em mais de 8% no primeiro trimestre deste ano. O que garantia certa estabilidade eram as exportações da Espanha. Mas, com a crise que ganha força em toda a Europa, o país também foi afetado pela queda nas vendas externas. Segundo o BC espanhol, a taxa de desemprego ainda subiu 4% entre janeiro e março e chega a uma taxa “que seria compatível com um desemprego de 24%”. O que mais preocupa o BC é que essa taxa de supressão de postos de trabalho vem aumentando e deve ganhar ritmo ainda mais intenso nos próximos três meses. Ontem, os dados do BC, a crise política na Holanda e as eleições na França fizeram o risco país da Espanha ultrapassar a barreira dos 6%, considerada “perigoso” e que reflete a incapacidade do país de recorrer ao mercado para se financiar.

Tensão empurra bolsas para baixo

●Turbulências na Europa, com problemas na Espanha e na Holanda, derrubaram as bolsas do continente, dos EUA e até do Brasil. A Bolsa de Paris fechou em baixa de 2,83%. Em Frankfurt, o índice DAX caiu 3,36%. Em Ma-dri, o Ibex 35 recuou 2,76%, a Bolsa de Londres teve queda de 1,85% e na Itália, o FTSE MIB caiu 3,83%,Nos EUA, o Dow Jo-nes caiu 0,78% e a Nasdaq 1%. A Bovespa também recuou 1,53% e fechou com 61.539 pontos.