Título: A reação dos bancos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2012, Notas e informações, p. A3

É bem-vindo o anúncio dos principais bancos privados do País de redução dos juros em algumas de suas operações. Mas só o tempo dirá se a decisão não passa, como podem suspeitar muitos de seus clientes, de jogada de marketing e de uma tentativa de repor em nível mais alto o relacionamento com o governo, abalado nos últimos dias pelas reivindicações extemporâneas do principal dirigente da associação que os representa.

Sabe-se, até agora, que apenas determinadas linhas de crédito terão custos mais baixos para os consumidores e para as empresas, desde que sejam clientes especiais da instituição ou aceitem transferir para ela as operações que realizam em outras. Não se sabe se isso terá impacto sobre o custo médio dos empréstimos, se será suficiente para estimular o consumo e o investimento produtivo, se haverá oferta suficiente de financiamentos, se a redução será duradoura ou não passará, como já ocorreu, de simples atitude de conveniência num momento delicado para a imagem dos bancos.

Há cerca de duas semanas, cumprindo determinação da presidente Dilma Rousseff - que tem feito críticas duras aos bancos privados por não reduzir os juros dos empréstimos que concedem -, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal anunciaram o corte de até 78% em algumas de suas taxas de juros. A intenção era forçar os bancos privados a seguir o exemplo dos estatais.

No encontro que teve pouco depois com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir a questão, o presidente da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), Murilo Portugal, apresentou uma lista de 22 medidas que, no entender dos bancos, contribuirão para reduzir o juro pago pelos tomadores de empréstimos bancários. A maioria das medidas depende do próprio governo, não dos bancos, daí Portugal ter dito, logo após a reunião com Mantega, que "agora a bola está com o governo", o que irritou Dilma.

Há, de fato, componentes do "spread" bancário - a diferença entre o custo da captação de recursos pelos bancos e o custo do empréstimos bancários para seus clientes - de responsabilidade do poder público, como a tributação elevada, a imposição de depósitos compulsórios em proporção elevada e a carência de medidas legais e administrativas que assegurem maior segurança às operações de financiamento.

É inegável, porém, que cabe aos bancos, diretamente, a maior parcela de responsabilidade pelo alto custo dos financiamentos no País. Na média dos últimos anos, de acordo com relatórios do Banco Central, mais de um terço do "spread" é representado pelo lucro das instituições financeiras. Como os bancos estão entre empresas com a maior taxa de lucro no País, o governo entende que eles podem reduzir os juros imediatamente, cortando parte de seus resultados, sem necessidade de outras medidas.

Ao anunciar a redução dos juros de algumas de suas operações para clientes com perfis muito bem escolhidos, de certa maneira os principais bancos privados do País - Itaú, Bradesco, Santander e HSBC - concordam com a argumentação do governo.

Mas o fazem bem a seu modo, anunciando amplamente sua decisão para o público, mas restringindo a concessão de eventuais vantagens para determinadas linhas e para um número limitado de clientes, sob condições muito especiais. Em geral, as operações que ficaram mais baratas sãos aquelas cujos juros estão entre os mais baixos do mercado, como o crédito consignado - garantido pelo salário do tomador do empréstimo -, ou que têm pequena participação nas operações desses bancos, como os financiamentos de automóveis, geralmente oferecidos por bancos ligados às montadoras.

Quanto aos clientes beneficiados, são aqueles com menor risco de inadimplência, mais fiéis à instituição, com mais contrapartidas a oferecer e que, por essas razões, já mereciam tratamento preferencial. Adicionalmente, os bancos tentam atrair clientes de outras instituições, mas certamente com exigências, como sempre fazem, entre as quais a de transferência da conta salário.

Ao enfrentar os bancos, exigindo a redução dos juros, o governo obteve sua primeira vitória. No entanto, nada garante, por enquanto, que ela será duradoura ou que terá eficácia.