Título: BTG Pactual levanta R$ 3,6 bilhões na maior abertura de capital desde 2009
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2012, Negócios, p. B21

Finanças. Primeiro banco de investimentos a listar suas ações na bolsa brasileira chega ao mercado com um valor estimado entre R$ 27 bilhões e R$ 28 bilhões: preço dos papéis foi fixado em R$ 31,25, um pouco abaixo do teto sugerido, de R$ 33,75 ALINE BRONZATI, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR, SILVIA ARAÚJO - O Estado de S.Paulo O banco de investimentos BTG Pactual conseguiu captar até R$ 3,656 bilhões em sua abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) na BM&FBovespa. É a maior operação desse tipo na bolsa brasileira desde que o Santander vendeu suas ações, em 2009, movimentando cerca de R$ 8 bilhões.

As ações do banco de André Esteves tiveram preço final fixado em R$ 31,25. O valor ficou no centro da faixa inicialmente sugerida, de R$ 28,75 a R$ 33,75, e em linha com as previsões. Foram registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 117 milhões de units (ativos compostos por mais de uma classe de valores mobiliários, como, por exemplo, uma ação ordinária e um bônus de subscrição, negociados em conjunto).

Pelos dados registrados, foram colocados os lotes principal, suplementar e parte do adicional. Caso o lote suplementar não seja exercido em até 30 dias, a oferta pode ser reduzida em R$ 421,9 milhões. O prazo de exercício do lote suplementar começa amanhã e vai até 25 de maio.

O primeiro banco de investimento a listar ações no Brasil deve chegar à bolsa amanhã com um valor de mercado entre R$ 27 bilhões e R$ 28 bilhões, segundo cálculos de uma fonte próxima à operação. Nem mesmo a chiadeira de preço por parte dos investidores locais, que julgavam o BTG "caro", e a multa do órgão regulador italiano (Consob) a André Esteves, por uso de informação privilegiada, impediram uma forte demanda pelos papéis. "Houve bastante interesse de investidores estrangeiros que veem no BTG um veículo para participar do crescimento do mercado de capitais brasileiro", avalia um executivo com conhecimento da operação.

Segundo fontes, as reservas passaram dos R$ 16 bilhões, sendo que a maior parte ficou entre o piso e o meio. As fontes também observaram que havia demanda para fechar a operação na ponta mais alta do intervalo do preço sugerido. Porém, a estratégia foi garantir uma boa estreia amanhã no pregão das bolsas brasileira e de Amsterdã, onde os papéis também serão negociados.

Atração. Vários fatores, na opinião de fontes do mercado, garantiram o sucesso do IPO. O primeiro deles é o nome do presidente da instituição, André Esteves, que por si só já atrairia investidores do mundo inteiro. "O banco tem nome, sobrenome e histórico, e por esses motivos atraiu o interesse tanto dos investidores institucionais como dos de varejo", disse uma fonte.

Além disso, quando se compara o BTG e os bancos de investimento estrangeiros, a instituição brasileira leva vantagem neste momento.

Instituições tradicionais, como os americanos Goldman Sachs e Morgan Stanley, estão sendo negociadas a um preço bem próximo ou até abaixo do valor patrimonial, o que demonstra que ainda sentem os reflexos da crise financeira mundial.

Dentre os diferenciais do BTG Pactual, analistas destacam que o banco vem diversificando suas operações, expandindo-se internacionalmente e crescendo.

O que também contribuiu na precificação do IPO do BTG, segundo fontes, foi a imposição de cláusulas que visam a garantir a estrutura societária do BTG, mesmo após o IPO. Diferente de outros bancos de investimento globais, se, a qualquer tempo e por qualquer razão, os sócios do banco decidirem se desfazer dos seus papéis, terão de vendê-los pelo valor contábil, ao invés do valor de mercado ou justo. "Os sócios vão permanecer na instituição para fazê-la crescer e ainda mais focados no negócio", disse uma fonte.

Os tentáculos do BTG Após deixar o banco suíço UBS, em 2008, André Esteves se uniu a outros investidores para formar o BTG. A sigla, oficialmente "Banking and Trading Group", podia também significar, para alguns, "Back to the Game" (de volta ao jogo), já que, na época, Esteves deixava de ser executivo para voltar a ser banqueiro. Em 2009, em meio à crise financeira, o BTG comprou o banco Pactual por US$ 2,5 bilhões (deságio de US$ 600 milhões em relação ao valor pago pelo UBS em 2006). Nos anos seguintes, ficou claro que os sócios tinham mesmo sede de voltar à ativa. No comando, Esteves - conhecido por seu estilo agressivo - fez do BTG Pactual um rolo compressor que comprou participações em empresas como Estapar, Mitsubishi Motors e formou a holding Brazil Pharma, dona de marcas como Farmais e Big Ben. Em 2011, o BTG se tornou sócio do Panamericano após a instituição - que pertencia ao Grupo Silvio Santos - ser vítima de uma fraude de R$ 4,3 bilhões. O banco ficou com 37,64% do Panamericano por R$ 450 milhões. Um ano antes, a Caixa Econômica Federal havia comprado fatia de 35,5% por R$ 739 milhões. Ainda no passado, o BTG se associou ao grupo chileno Celfin para criar o maior banco de investimentos da América Latina. Nos últimos anos, o banco também assessorou as principais fusões e aquisições do País, incluindo as uniões Cosan-Shell e TAM-LAN.