Título: Grupos a favor e contra a liberação fazem pressão
Autor: Recondo, Felipe; Gallucci, Mariângela
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2012, Vida, p. A22

Desde a véspera da sessão de ontem no Supremo Tribunal Federal (STF), manifestantes contrários à liberação da interrupção da gravidez em casos de anencefalia faziam uma vigília na Praça dos Três Poderes. Religiosos fizeram orações e, durante a sessão, gritaram do lado de fora - sem que fossem ouvidos no plenário.

Mas a principal personagem do grupo contrário ao aborto foi a menina Vitória de Cristo. Nascida com acrania, ela tem atualmente 2 anos e 3 meses. Os pais a levaram ontem ao STF e, na terça-feira, visitaram alguns ministros da Corte na tentativa de convencê-los a votar contra a liberação da interrupção da gestação em caso de anencefalia.

Mais nova integrante do tribunal, a ministra Rosa Weber revelou ter recebido a visita da criança. Disse que ficou sensibilizada, mas acabou votando a favor da liberação.

Mais contido nas manifestações, o grupo favorável à interrupção nesses casos também teve sua protagonista: a pernambucana Severina Maria Leôncio Ferreira. Há oito anos, quando estava com três meses de gravidez, ela recebeu a notícia de que gerava um feto com anencefalia. Depois de reflexão, decidiu interromper a gravidez ancorada em uma liminar, então em vigor, concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello. Mas, quando se preparava para a intervenção, a liminar foi derrubada pelo plenário do STF. Severina teve de carregar o feto por mais quatro meses. Aos 7 meses de gravidez, sofreu um aborto espontâneo.

Ela esteve no Supremo ontem para acompanhar o julgamento.

Católica e mãe de um menino de 11 anos, contou que, antes dessa gravidez, tinha planos de ter outros filhos - projeto abandonado depois da experiência que ela considera como "a mais sofrida da vida". "É muita dor para uma mãe", afirmou, ao comentar a experiência de ter sido obrigada a manter a gravidez do anencéfalo, mesmo contra a vontade.

Ontem, Severina foi apresentada ao ministro Marco Aurélio. Na rápida conversa, ele afirmou que o sofrimento de Severina serviu para que a Corte "avançasse" nesse assunto. / M.G. e F.R