Título: ONU é alvo de críticas sobre a Rio
Autor: Girardi, Giovana
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2012, Vida, p. A26

O secretário-geral da ONU para a Rio+20, o chinês Sha Zukang, respondeu ontem a críticas de que a agenda da conferência para o desenvolvimento sustentável está muito ampla e faltam objetivos mais específicos que a tornem um evento com mais peso.

Segundo ele, negociações anteriores ao evento tentarão concentrar mais os pontos. Ele diz que já estará "razoavelmente feliz" se for possível alcançar um acordo sobre o estabelecimento dos chamados "objetivos do desenvolvimento sustentável" para valerem a partir de 2015.

Daqui a três anos expira o prazo fixado em 2000 para que o mundo cumpra os Objetivos do Milênio, que miravam principalmente a erradicação da pobreza nos países em desenvolvimento. A ONU e diversas nações defendem um novo pacote de metas mais amplas para todos os países.

"Se conseguirmos assegurar esses objetivos, que eles cubram áreas críticas e decidirmos trabalhar com indicadores para monitorara implementação desses objetivos, teremos grandes decisões", afirmou, após um evento em Haia (Holanda) para incentivar a participação do setor empresarial na Rio+20. Com esse mandato, diz, a Assembleia-Geral da ONU poderia depois trabalhar com os detalhes.

Mas seria preciso acordar também uma instituição que vá implementar esse plano. A principal proposta, encampada pelo Brasil, é de criar um conselho de desenvolvimento sustentável. "Vinte anos atrás, concordamos em criar a comissão para o desenvolvimento sustentável, mas as pessoas perderam o interesse. Precisamos de uma instituição forte, cujo principal trabalho seja integrar os desenvolvimentos econômico e social, com proteção ambiental. Nos últimos 20 anos vimos um rápido desenvolvimento econômico, mas à custa do ambiente."

Zukang lembra que desde a Rio 92 o mundo só se tornou mais insustentável. "A população aumentou, o consumo não sustentável cresceu, houve encolhimento dos recursos naturais. Por isso essa conferência tem grande importância histórica."

Zukang também defendeu que a conferência aponte para o que ele chamou de "três palavras magicas": integração (das três dimensões do desenvolvimento sustentável), implementação (das decisões, do que já foi acordado em outras reuniões) e coerência.

Nesse útimo aspecto, ele lembrou o fato de que há várias instituições que de algum modo lidam com ambiente, mas de modo separado e sem muito peso. Nem mesmo o Pnuma, o programa das Nações Unidas para o ambiente, apresenta um grande desempenho, e muitos sugerem que ele seja transformado em uma agência com a força, por exemplo, da OMS.

Sem tomar partido sobre se essa deve ser a decisão, apenas pediu coerência. "Precisamos fazê-las trabalhar juntas. Ou ao menos coordenadas", diz.

"A Rio 92 criou três bebês: as conferências do clima, da biodiversidade e da desertificação, mas elas não atuam juntas como irmãs. A fragmentação é um dos grandes problemas que temos de resolver."

De acordo com o secretário-geral, já estão confirmados 135 chefes de Estado para a conferência. O que pode não significar sucesso nas negociações.

Segundo ele, na última reunião preparatória, no final de março, alguns países - que ele não quis nomear - deram sinais de querer voltar atrás em questões concordadas há 20 anos. "Isso pode ser um problema enorme. É traição. Foram criados compromissos e eles não querem honrá-los. De repente, não se pode mais confiar neles."

Nova fase. Ben Knapen, ministro dos Assuntos Europeus e Cooperação Internacional na Holanda, pediu, no discurso de abertura da consulta internacional a empresas e indústrias que ocorre em Haia, em preparação para a Rio+20, para todos agirem juntos para abrir a nova fase em busca do desenvolvimento sustentável. "Queremos ver responsabilidade da sociedade civil e das empresas sobre essas questões. Não é algo que podemos delegar aos governos, porque desse modo eles terão de fazer valer, mas isso só funciona quando as pessoas, as organizações e o setor privado se sentem comprometidos a agir de acordo com o bem comum."