Título: FMI pede mudanças na aposentadoria
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2012, Economia, p. B9

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou ontem aos governos e setores privados adequar "urgentemente" as regras da aposentadoria às estatísticas mais recentes de longevidade da população. O descompasso, alertou o Fundo, elevará os custos da previdência pública e privada e, consequentemente, trará novas ameaças às contas fiscais dos governos e à estabilidade financeira mundial.

A mensagem vale tanto para países avançados como para os emergentes. A recomendação foi amparada no capítulo 4 do Relatório de Estabilidade Financeira Mundial, documento a ser divulgado na íntegra no encontro de primavera do FMI e do Banco Mundial, na próxima semana. O estudo ressaltou haver poucos governos atentos ao risco. Segundo o economista Erik Kopper, um dos autores do estudo, o critério adequado seria elevar a idade mínima de aposentadoria acompanhando o exato aumento da expectativa de vida.

A maioria dos países define a idade mínima para a aposentadoria com base em estatísticas ultrapassadas e, segundo o FMI, assume custos pelo menos 10% mais altos por isso. Nos EUA, onde a maior parte dos fundos de pensão se guia pela taxa de mortalidade de 1983, o erro pode representar um custo adicional de US$ 7 trilhões no futuro.

De acordo com o FMI, se as pessoas viverem três anos mais que a estimativa média de vida adotada para fins de aposentadoria, os gastos com aumentariam 50% em países avançados, e 25% nos emergentes.

"Quanto mais se ignora essa questão, mais difícil será resolvê-la. O tempo para agir chegou", disse Laura Kodres, coordenadora do estudo do FMI, ao insistir na importância desse ajuste para a saúde das contas públicas e do sistema financeiro dos países. O estudo não considerou o caso específico do Brasil, onde o envelhecimento da população tem crescido significativamente.

O FMI chamou a atenção também para o desequilíbrio entre a oferta de ativos considerados seguros para os investidores e a demanda. A oferta baixa de ouro e, especialmente, de títulos de governos e de empresas classificados como grau de investimento, em relação à procura, traz risco para a estabilidade financeira mundial.

Os economistas não se mostraram confiantes nas iniciativas recentes de alguns bancos centrais, como o europeu, de prover amplos volumes de títulos seguros e líquidos em curto prazo. Essa política, diz o estudo, pode apenas esconder o problema do desequilíbrio entre oferta e demanda. Nas contas do FMI, existem hoje US$ 74,4 trilhões de ativos potencialmente seguros. Mas 16% desse volume pode evaporar por causa das altas taxas de juros prometidas atualmente pelos emissores de títulos.