Título: Países ricos tentam esvaziar atuação da Unctad
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/04/2012, Economia, p. B9

Países industrializados estão promovendo uma campanha sem precedentes para esvaziar o mandato da Unctad - Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento - e impedir, entre outras coisas, que a agência tenha a função de debater e pesquisar a questão da guerra cambial.

Brasil, Índia, China e Rússia já alertaram que querem a manutenção da instituição e, ontem, Rubens Ricupero, ex-secretário-geral da Unctad, assinou uma declaração ao lado de outros 40 economistas apelando pela preservação da Unctad. "Estão tentando silenciar o debate", declarou a carta, apontando que a Unctad tem servido como visão alternativa ao posicionamento do FMI .

Para os economistas, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico quer "suprimir" qualquer voz que questione a forma pela qual a crise tem sido tratada, principalmente, quando o tema é redução da dívida e ortodoxia.

A agência se reúne a partir do dia 21 no Catar. Mas Estados Unidos e Europa já alertaram que vão defender que a entidade deixe de dar conselhos sobre como a economia mundial deve ser administrada. Os últimos anos, os conselhos feitos pela Unctad para setores como finanças, patentes, meio ambiente e comércio se chocaram com a agenda dos países ricos.

A justificativa é de que temas de finanças ou câmbio devem ser levados pelo FMI. Já os países emergentes alegam que a Unctad é o único fórum onde todos têm o mesmo voto e onde a pesquisa pode ocorrer de forma independente.

O mandato que está sendo proposto é de que a entidade faça pesquisas e dê conselhos sobre temas como a forma de superar a recessão, a situação das moedas, a volatilidade dos mercados de commodities e outros que o Brasil já saiu em defesa.

Criada em 1964, a Unctad foi central no estabelecimento da nova ordem econômica internacional, nos anos 70. Alertou anos antes sobre a dívida dos países ricos, das bolhas nos mercados e da falta de regulamentação sobre as ações de bancos, como o Lehman Brothers. / JAMIL CHADE