Título: Mantega sobe o tom com bancos e diz que podem deixar de ser campeões do spread
Autor: Veríssimo, Renata ; Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2012, Economia, p. B1

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, elevou ontem o tom e fez duras críticas à postura dos bancos privados na concessão de crédito e no custo do dinheiro. Segundo ele, existem todas as condições para que os bancos brasileiros deixem de ser "os campeões do spread". Também avisou que não atenderá às propostas feitas pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) na terça-feira.

"Ora, se eles não tivessem lucratividade, a gente poderia dizer: vamos mexer nos tributos, reduzir a cunha fiscal, mexer no compulsório. Mas eles têm margem para aumentar o crédito neste momento, e é necessário que isso seja feito sem mexer em nada", afirmou.

Mantega ficou incomodado com as declarações do presidente da Febraban, Murilo Portugal, com quem esteve reunido no início da semana.

Depois de apresentar uma lista com mais de 20 reivindicações, Portugal disse que "a bola" estaria com o governo para promover as condições necessárias para a redução do spread bancário no Brasil.

"O Murilo Portugal esteve aqui outro dia e, em vez de trazer soluções anunciando aumento de crédito, veio para fazer cobranças. Se os bancos estão tão lucrativos, eles têm margem sim para reduzir as taxas e aumentar o volume de crédito", comentou o ministro, em claro sinal de contrariedade.

Situação fiscal. Mantega disse que os bancos privados não estão liberando crédito e estão cobrando juros muito elevados, mesmo considerando a atual situação do Brasil.

"A economia brasileira está bastante sólida, estamos com inflação baixa, em torno de 4,5%, estamos com uma situação fiscal ótima, estamos com superávit, diminuindo a dívida pública, os consumidores estão com vontade de consumir, com mais salários, porém está havendo uma retenção de crédito por parte dos bancos", acrescentou.

De acordo com Mantega, as taxas de captação do dinheiro pelos bancos privados são de 9,75% ao ano, mas emprestam para o consumidor a taxas de até 80% ao ano, dependendo das linhas de crédito.

"Essa situação não se justifica. A economia brasileira tem condições jurídicas sólidas. A economia brasileira tem o maior spread do mundo e isso não se justifica", criticou.

O ministro disse que, no passado, até havia alguma insegurança jurídica, por causa de leis que não garantiam a devolução do recurso, mas o Brasil avançou muito nesta área.

"Temos nova Lei de Falências, alienação fiduciária que garante a retomada dos bens e até o cadastro positivo já foi aprovado. Os bancos diziam que iriam reduzir o spread quando nós aprovássemos o cadastro positivo. Ele está regulamentado e valendo", argumentou. Procurada, a Febraban não comentou o caso.