Título: Diretor do Ibre: Corte de juro da Caixa é legítimo
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2012, Economia, p. B4

Para Luiz Guilherme Schymura, governo pode usar banco 100% estatal para política pública. Mas há risco macroeconômico

Para o especialista em microeconomia Luiz Guilherme Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, a decisão da Caixa Econômica Federal de baixar fortemente os juros das suas linhas de crédito para a pessoa física é totalmente legítima, e correta do ponto de vista microeconômico.

"Isso é decisão de política pública, e se a ideia é criar mais competição no mercado de crédito é perfeitamente válida", ele diz.

O economista nota que a Caixa Econômica é um banco 100% público, sem acionista minoritário. Dessa forma, na sua visão, a instituição pode ser usada para uma política pública voltada a forçar e induzir o resto do sistema bancário a baixar os juros.

Schymura lembra também que, durante a crise global, uma ação semelhante dos bancos públicos foi feita, com sucesso.

O economista, porém, faz uma diferenciação entre os bancos públicos. O Banco do Brasil, que tem acionistas minoritários e ações negociadas em bolsa, não deveria, na sua visão, colocar em risco a rentabilidade para sustentar uma política pública.

Isso não quer dizer, porém, que o Banco do Brasil não possa seguir os passos da Caixa: "Ele pode acompanhar, como outros bancos privados acompanharão, como uma estratégia de manutenção de market share, diante da decisão da Caixa; mas, nesse caso, é uma estratégia privada do Banco do Brasil".

Em relação à Caixa, Schymura também vê limites na atual estratégia. "Se a Caixa for agressiva demais, ela começa a prejudicar o sistema financeiro como um todo", nota Schymura, já que os outros bancos não conseguirão acompanhar de forma saudável, e grandes distorções podem ser criadas.

Uma última ressalva feita por Schymura é quanto ao efeito macroeconômico da queda dos juros estimulada pelos bancos públicos. O economista observa que, entre 2004 e 2011, o PIB brasileiro cresceu 31,8%, enquanto a demanda doméstica - investimentos e gastos das famílias e do governo - teve uma expansão de 44,4%. A diferença, portanto, é de quase 10% do PIB.

Diante do fraco desempenho recente do PIB, que cresceu 2,7% em 2011 e deve ficar por volta de 3% em 2012, na projeção de Schymura, ele acha que o governo quer impulsionar o crédito para manter o ritmo mais forte da demanda. Para o economista, muito mais do que o PIB, o crescimento da demanda é que provoca uma sensação de bem-estar na população, especialmente da classe C até a base da pirâmide.

"Eu também acho legítima essa tentativa, mas, pelo lado macro, há um receio sobre até que ponto essa política é sustentável", pondera o diretor do Ibre. Com o crédito já próximo de 50% do PIB, ele se pergunta até que ponto é prudente continuar pisando no acelerador, especialmente se alguma trepidação econômica provocar aumento do desemprego e da inadimplência.