Título: BC se incomoda com mercado, que não reduziu previsão de inflação
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2012, Economia, p. B4

Banco Central gostaria que analistas cortassem expectativa do IPCA para 2013, assim como fizeram para este ano

O Banco Central (BC) está muito incomodado com os analistas do mercado que não revisaram para baixo suas projeções de inflação para 2013, mesmo com a queda expressiva das previsões para 2012, depois que o resultado do IPCA de março mostrou recuo forte da alta dos preços.

Embora com peso menor do que no passado, as expectativas de mercado para a inflação são importantes para o BC porque entram no cálculo das projeções do IPCA e influenciam as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os rumos da taxa Selic. O Copom tem reunião marcada para a próxima semana.

Na última pesquisa Focus, que coleta semanalmente as estimativas de analistas do mercado financeiro, a projeção para o IPCA de 2012 caiu de 5,27% para 5,06%, mas as estimativas para 2013 permaneceram em 5,5%.

Mesmo no grupo dos analistas que mais acertam as projeções na pesquisa do BC, a previsão de alta de 5,10% para a inflação oficial no próximo ano ficou estável, enquanto a estimativa de 2012 teve queda ainda mais forte e recuou de 5,27% para 4,82%. No último relatório trimestral de inflação, divulgado em março, o BC projetou o IPCA ao fim deste ano em 4,4%, abaixo do centro da meta de 4,5%. Para 2013, o BC projeta alta de 5,2%.

Incoerência. Conforme apurou o Estado, tanto o BC quanto o Ministério da Fazenda observam incoerência nesse cenário traçado pelo mercado financeiro, sobretudo no momento em que analistas começaram a projetar espaço maior para a queda dos juros com o recuo mais forte da inflação do que o esperado e o cenário internacional desfavorável e marcado por incertezas. "A expectativa de inflação para 2013 não está cedendo e isso dificulta o trabalho", criticou uma fonte do governo.

O BC, no entanto, não vê erro na comunicação com o mercado. Em entrevista na última segunda-feira à Globo News, o presidente do BC, Alexandre Tombini, destacou que a diferença entre as projeções do mercado e as da sua equipe está menor hoje. Ele aproveitou para alfinetar os agentes do mercado ao afirmar que, a partir do momento em que a inflação mostre convergência na direção do centro da meta, como está ocorrendo, dá uma oportunidade para os formadores de expectativas "refletirem melhor" e revisarem suas projeções. Para o BC, o processo de desinflação no Brasil está ocorrendo de forma significativa. Tombini já indicou que o Copom deve levar a taxa Selic para 9% e que, por enquanto, não há mudança nessa estratégia.

A perspectiva de uma queda mais forte da Selic ganhou força na semana passada, depois que o IBGE divulgou o resultado de 0,21% do IPCA de março, mostrando forte recuo da inflação. Alguns analistas até mesmo passaram a prever a hipótese de uma queda mais forte da taxa de juros, para o mínimo histórico de 8,75% ou até 8,50%.

O BC não quer correr o risco de fazer um movimento de queda mais forte e depois ter de subir o juro mais à frente. Ao manter a taxa em 9%, a expectativa do BC é de que a inflação ceda para o centro da meta ainda em 2012, dando margem a quedas futuras.

Fiscal. Uma das preocupações do BC é com o ritmo de recuperação econômica no segundo semestre e o seu impacto na inflação do ano que vem. O comportamento dos preços dos commodities ajuda, por conta do crescimento menor da China e em outros países. Mas, ao mesmo tempo, pode não ser suficiente para compensar se a recuperação doméstica for forte.

Embora haja vozes no governo que defendam uma flexibilização da política fiscal para estimular o crescimento da economia este ano, o BC conta com o cumprimento da chamada meta cheia de superávit primário das contas públicas para conseguir levar a inflação ao centro da meta e manter a redução dos juros.