Título: A produção industrial e o novo programa de ajuda
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2012, Economia, p. B2

No mesmo dia em que o governo anunciava um novo programa de estímulos à indústria, o IBGE divulgava os dados da produção industrial em fevereiro. Embora se registre um crescimento de 1,3% sobre o mês anterior, não se pode pensar que o setor manufatureiro esteja saindo do marasmo em que se encontra. O resultado de fevereiro é estatístico e explica-se, na verdade, porque houve uma violenta queda de 2,1% da produção industrial do mês de janeiro, em relação a dezembro de 2011. Nos dois casos, são dados com ajuste sazonal.

Dos 27 setores analisados, 18 apresentaram crescimento em valor absoluto. O resultado mais brilhante se verificou com os caminhões, cuja produção cresceu 13,1%, mas, de novo, em seguida a um mês em que houve férias coletivas e em que a produção havia caído 31,2%.

A estagnação da indústria aparece melhor quando se verifica que, em relação ao mesmo mês do ano passado, houve queda de 3,9% e que nos dois primeiros meses do ano a produção caiu 3,4% em relação ao mesmo período de 2011.

Não se deve concluir, diante do aumento de 5,7% na produção de bens de capital, que as empresas industriais se empenham em aumentar ou modernizar sua produção. Na verdade, os dados sobre equipamentos em geral foram inflados pela produção de caminhões, considerados bens de capital, porque a produção dos destinados para fins industriais diminuiu. O único resultado que se pode considerar de fato positivo foi a elevação de 2,3% da produção de bens intermediários, que talvez oculte uma antecipação das medidas que o governo tomou e que pode levar a um aumento da produção de bens acabados, em vista das novas facilidades.

A indústria extrativa - que não tem acesso às medidas fiscais do novo pacote - cresceu 9,9%, aumento que se verifica apenas no caso dos minérios ferrosos e de minerais não metálicos.

O fato é que a maioria dos produtos que serão favorecidos pelo novo programa de ajuda à indústria acusa queda nos dois primeiros meses do ano.

O novo programa terá força para relançar a produção industrial? - essa é a pergunta. Sem dúvida, os setores de mão de obra intensiva terão possibilidade de aumentar suas margens de lucros, graças à desoneração da folha. Subsistem, porém, dúvidas quanto à redução de preços. O problema essencial consiste na redução do custo global da produção, que depende tanto da produtividade dos trabalhadores quanto da modernização dos equipamentos, assim como da capacidade de inovação das empresas.