Título: Geithner pede ajuste da oferta global de petróleo
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2012, Internacional, p. A21

Sanções ao Irã levam secretário do Tesouro americano a pedir cooperação para garantir suprimento da demanda

Ao trazer a política americana contra o programa nuclear iraniano para os debates do Fundo Monetário Internacional (FMI), o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, alertou ontem para a necessidade de ajuste da oferta de petróleo a partir da vigência de novas sanções contra Teerã, em meados deste ano. As sanções incluem a não- renovação de contratos de compra de petróleo por países europeus e a punição, nos EUA, às subsidiárias ou matrizes de companhias que mantiverem negócios naquele país.

"Há um claro foco mundial em pressionar o Irã a abandonar suas atividades (nucleares) ilegais", afirmou Geithner, ao apresentar as sanções dos EUA e da Europa como instrumentos de mandato multilateral. "A cooperação continuada para assegurar o suprimento adequado vai sinalizar para o mercado mundial de energia que haverá produção suficiente para atender à demanda", completou, ao indiretamente apelar pelo bom diálogo entre países exportadores e importadores de petróleo.

Geithner enfatizou, em seu discurso no Comitê Monetário e Financeiro do FMI, o risco dos altos preços do petróleo para o crescimento mundial. Nos últimos meses, os EUA e seus parceiros se empenharam em extrair de países exportadores, especialmente da Arábia Saudita, o compromisso de aumento da oferta. Os resultados foram positivos, segundo Geithner, e são evidenciados com a queda dos preços nas últimas semanas e o aumento dos estoques mundiais. "É importante que vigiemos os riscos de queda na oferta e com seus efeitos no crescimento econômico", explicou.

Visão brasileira. A abordagem de Geithner sobre os efeitos das novas sanções europeias sobre o Irã no mercado mundial de petróleo divergiu da apresentada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Indiretamente, Geithner mencionou as sanções como uma ação coordenada multilateralmente. Mantega, em eco à posição do Palácio do Planalto, as qualificou como medidas unilaterais com potencial de "desestabilizar" a economia mundial.

"Recentes medidas para reduzir as exportações de petróleo do Irã poderiam provocar um aumento nos preços de petróleo, colocando a recuperação mundial em ameaça. Sanções econômicas, especialmente as unilaterais, tendem a ser contraproducentes", afirmou Mantega, no mesmo comitê do FMI. "Nós conclamamos todas as partes envolvidas a manter o diálogo com espírito construtivo e a dar as boas vindas aos recentes sinais de progresso nas negociações (nucleares)", completou, referindo-se às conversas entre o Irã e o grupo formado por Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, China, Rússia e Alemanha.

Em paralelo ao encontro de primavera do FMI e do Banco Mundial, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OCDE) reuniu-se na sexta-feira e emitiu um comunicado no qual não fez nenhuma menção aos impactos das novas sanções ao Irã nem a outros episódios geopolíticos nos preços do petróleo. A produção de seus sócios alcançou 31,3 milhões de barris diários em março passado, volume que "excede de longe os requerimentos da Opep para este ano". O mercado, segundo a organização, está "bem suprido". E os preços continuam a ser empurrados para cima por pura especulação.

Está claro que os níveis correntes dos preços de petróleo bruto não têm explicação nos fundamentos. Ao contrário, a percepção sobre uma potencial escassez de petróleo fez os preços subirem, em vez de qualquer evidência de impossibilidade de suprimento", informou a OCDE, em seu comunicado. \1Esses temores, amplificados pelas atividades especulativas, continuam a empurrar os preços do produto para cima."