Título: Inverno rigoroso e alta de imposto põem inflação em risco
Autor: Abara, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2012, Economia, p. B3

Em março, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) apresentou variação de 0,21%, resultado significativamente inferior ao obtido no mesmo mês de 2011 (0,79%). Com isso, a variação anual recuou para 5,24%, com perspectiva de situar-se entre 4,5% e 5% no acumulado de 12 meses até abril. Esse patamar deve provavelmente permanecer até o fim do ano.

Esse resultado, que pode parecer surpreendente quando comparamos o ritmo de crescimento de preços no acumulado de 12 meses até setembro do ano passado, pode ser explicado principalmente pelo comportamento dos preços dos produtos e dos serviços, que têm praticamente o mesmo peso nas despesas familiares.

Enquanto a variação de preços dos serviços acumulada em 12 meses até março deste ano foi de cerca de 7%, os preços dos produtos no mesmo período subiram um pouco mais de 3%. Seis meses atrás, em setembro do ano passado, a variação em 12 meses dos preços dos produtos era de aproximadamente 6,5% e de 8% nos serviços. Ou seja, a redução da inflação ocorreu para os dois grandes grupos de preços, mas de forma mais intensa para os produtos.

Entre os componentes do grupo de preços dos produtos, observa-se que os artigos industrializados apresentam maior regularidade ante os alimentos não industrializados, que estão mais sujeitos a choques de oferta. Além disso, no subconjunto dos produtos industrializados, um dos componentes é o combustível, também sujeito a choques de oferta e efeitos sazonais. Ocorre que nos últimos 12 meses a variação dos alimentos semielaborados e combustíveis foi, respectivamente, de 3,7% e 2,2%.

A partir desse panorama mais geral é possível traçar um cenário identificando alguns fatores de risco para a inflação. Podemos destacar, com relação a alimentos semielaborados, a possibilidade de um inverno mais rigoroso com a ocorrência de geadas. Outro fator de risco é o possível reajuste dos combustíveis e o efeito de aumentos de tributos recém-anunciados sobre artigos, como cigarros e bebidas. Como os reajustes da gasolina são de fato administrados pelo governo, o maior risco é de um inverno rigoroso com alta de preços de alimentos justamente em uma época do ano em que a inflação é menor.