Título: Mercado ainda duvida de IPCA de 4,5
Autor: Abara, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/04/2012, Economia, p. B3

Apesar da inflação surpreendentemente baixa apontada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em março e das previsões do próprio Banco Central no último relatório de inflação, o mercado ainda não se convenceu de que o índice vai desacelerar para o centro da meta de 4,5% em 2012.

Pesquisa realizada ontem pelo serviço AE Projeções, da Agência Estado, com 21 instituições do mercado financeiro mostra que, na melhor das hipóteses, o IPCA encerra o ano em 4,7%. O teto do levantamento aponta 5,6%. A mediana é de 5,1%.

Na última pesquisa sobre o IPCA em 2012, realizada pela Agência Estado, às vésperas da divulgação do índice de 2011, em 5 de janeiro, as previsões iam de 4,9% a 6%, com mediana de 5,3%.

Na sondagem de ontem, o piso, o teto e a mediana estão mais baixos, mas ainda assim não contemplam o cenário benigno esperado pelo BC.

Projeção do BC. No mais recente relatório de inflação, a projeção do BC para o IPCA no fim do ano recuou de 4,7% para 4,4% no cenário de referência, que considera manutenção da taxa de câmbio em R$ 1,75 e Selic de 9,75%. No cenário de mercado, que leva em conta os níveis de câmbio e Selic que constam da pesquisa Focus, o relatório aponta IPCA de 2012 em 4,5%, ante 4,8% no documento de dezembro.

Desde o último levantamento sobre o IPCA 2012 até agora, muitos economistas já haviam alterado sua estimativa este ano mesmo antes de conhecer o indicador de março, enquanto outros não fizeram ajuste algum.

"Nesses três primeiros meses ainda não foi possível avaliar as recentes medidas de fomento à atividade econômica e à demanda agregada, feitas pelo governo através dos pacotes econômicos, expansão do crédito e queda da taxa de juros", justificou o analista Rafael Leão, da Austin Rating, sobre a manutenção da expectativa em 5,6%.

Outros profissionais, no entanto, dada a surpresa com o 0,21% de março - o piso das previsões era de 0,3% -, corrigiram sua estimativa para o ano, mas ainda assim, na maioria, de forma sutil. Por sinal, os agentes econômicos já não haviam conseguido prever a taxa de 0,25% do IPCA-15 de março. No levantamento do AE Projeções, a previsão mais baixa era de 0,32%.

De maneira idêntica a seus colegas de mercado financeiro, o economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, foi surpreendido pela taxa baixa de inflação em março. A instituição previa IPCA de 0,36% no mês passado.

A diferença de 0,15 ponto porcentual em relação ao resultado divulgado pelo IBGE foi determinante para que o Besi Brasil modificasse a previsão para o IPCA de 2012, mas o novo número ainda está bem longe do centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "Revisamos de 5,2% para 5,1% devido à surpresa. É um ajuste meramente derivado do número mais baixo de março", destacou.

A avaliação de que a taxa baixa de março pode ser algo efêmero predomina na maioria das planilhas dos analistas. Tudo porque existe uma pressão inflacionária praticamente contratada já a partir de abril, quando há aumentos importantes já definidos, como os de cigarros e de medicamento