Título: A ilusão de uma CPI a favor
Autor: Rabello, Joao Bosco
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2012, Nacional, p. A8

A criação da CPI do Cachoeira produziu nos bastidores de Brasília uma semana de intensas discussões sobre sua lógica política - da forma como esta é exercida pelas agremiações partidárias no país. A leitura mais corrente é a de que o PT, feita uma espécie de relação custo/benefício, concluiu que tem mais a ganhar do que a perder com a investigação das ligações públicas e privadas do jogo clandestino.

Perderia, de pronto, um governador - Agnelo Queiroz, do DF -, mas produziria estragos no rival aliado, o PMDB, e, principalmente, relativizaria a gravidade do mensalão, prestes a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na pior das hipóteses, em ano de eleições municipais não seria o único partido sob julgamento por desvios políticos e legais.

Nada disso, porém, tem consistência para explicar a razão de um governo e seu partido comemorarem uma CPI - instrumento, por origem, da minoria, pela primeira vez instalado por iniciativa da maioria. É ilusão acreditar que a CPI possa se contrapor ao mensalão - ambos caminharão paralelos ampliando a ação saneadora sobre modos e costumes políticos de há muito condenados pela sociedade.

O que, de fato, o PT espera é que a CPI alcance o Judiciário e mine sua credibilidade como julgador dos crimes políticos do partido. Outra ilusão, porque o eventual envolvimento de uma autoridade não compromete todo o Poder.

Nos últimos dias, os petistas parecem ter se dado conta de que deram um "tiro no pé", conforme já sussurram pelos corredores do Congresso. A boa notícia é que a "trapalhada" serve ao País, que ganha com as investigações .

Gilmar Mendes,

o alvo do PT

O PT alimenta a expectativa de explorar as relações pessoais do senador Demóstenes Torres (GO) com o ministro Gilmar Mendes, do STF, cuja enteada já trabalhou como funcionária no gabinete do parlamentar. Nesse elo, do qual o PT aspira extrair mais alguma coisa, estaria

o embrião para arguir o impedimento do ministro no julgamento de

Demóstenes no tribunal.

E, por extensão, questionar sua

credibilidade como julgador do