Título: Cachoeira deu dinheiro a Perillo, diz PF
Autor: Fabrini, Fábio ; Junqueira, Alfredo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/04/2012, Nacional, p. A8

Policial relata conversa entre contraventor e contador com menção a ‘provável grande quantidade de $’ enviada à sede do governo goiano

O inquérito da Polícia Federal na Operação Monte Carlo i ndica que intermediários do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, entregaram “grande quantida-de de dinheiro” para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), no Palácio das Esmeraldas, sede do Poder Executivo local. Gravações telefônicas realiza-das pela PF no dia 10 de junho do ano passado flagraram o contador de Cachoeira, Geovani Perei-ra da Silva, informando ao chefe que estava enviando, via dois as-sessores, uma caixa de computador “com aquele negócio” para ser entregue no Palácio. Tratava-se de dinheiro, segun-do trecho de relatório da PF inti-tulado “Entrega de dinheiro no Palácio do Governo de Goiás”. O agente responsável pela análise observa que era preciso cruzar as informações com dados da movimentação financeira da quadrilha. “Provável grande quantidade de $”, escreve o poli-cial no relatório, ao qual o Estado teve acesso.

De acordo com as investigações, os dois auxiliares de Cachoeira que combinaram a entrega do dinheiro são Gleyb Ferreira da Cruz, apontado como braço direito para assuntos financeiros da quadrilha, e o ex-vereador do PSDB de Goiânia Wladimir Gar-cez Henrique – ambos presos em fevereiro. As gravações telefônicas da PF mostram que Gleyb buscou o dinheiro com Geovani e se encontrou com Wladimir, que já estava esperando no Palácio das Esmeraldas. Todos os passos dos auxiliares eram monitorados por Cachoeira. As gravações dos registros da PF foram veiculadas na internet pelo blog Quidnovi, do jornalista Mino Pedrosa, no início da noite de ontem. Segundo ele, o montante enviado por Cachoeira a Perillo somava R$ 500 mil.

Encontro. As conversas indi-cam que houve um atraso no en-contro. Marcado para as 13h, a reunião entre os auxiliares de Cachoeira e o governador teve que ser adiada para depois das 16h. Wladimir explicou para Gleyb, por telefone, que uma pessoa identificada como “tenente”, provável integrante da equipe de segurança de Perillo, o informou que o governador ainda não confirmara o horário do encontro.

“Estou o esperando o tenente me ligar. Eu até já liguei lá e ele falou: ‘Wladimir, o governador inclusive falou pra você daqui a pouco vim pra cá (sic), mas não falou que horas, não’. Como eu estou enrolado, eu falei: ‘Não, tenente, vê aí pra mim que você marca e eu chego em menos de 20 minutos’”, diz o ex-vereador para Gleyb, que já estava levando a caixa de computador entregue por Geovani. Em outra conversa, Cachoeira pergunta para Wladimir se eles já foram atendidos pelo governador. O ex-vereador responde que não. Perillo negou, por meio de sua assessoria, que tenha recebido dinheiro do grupo de Cachoeira. Ele classificou o assunto de “esdrúxulo” e assegurou que o encontro nunca ocorreu. “O governador nunca tratou, no Palácio, de assuntos que não fossem de interesse do g overno. Ele rechaça com toda a veemência qualquer afirmação em contrário.”

Visita ao palácio

WLADIMIR GARCEZ HENRIQUE EX-VEREADOR DO PSDB DE GOIÂNIA. EM CONVERSA GRAVADA PELA PF COM GLEYB FERREIRA DA CRUZ, TIDO COMO BRAÇO DIREITO PARA ASSUNTOS FINANCEIROS DE CACHOEIRA

“Estou esperando o tenente me ligar. Eu até já liguei lá e ele falou: ‘Wladimir, o governador inclusive falou pra você daqui a pouco vim pra cá (sic), mas não falou que horas, não’. Como eu estou enrolado, eu falei: ‘Não, tenente, vê aí pra mim que você marca e eu chego em menos de 20 minutos.’”