Título: Índios estão presentes em 80,5% das cidades brasileiras, diz IBGE
Autor: Thome, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/04/2012, Vida, p. A22

Em duas décadas, a população indígena do País se espalhou. Em 1991, pelo menos uma pessoa se dizia indígena em 34,5% dos municípios. Em 2010, 80,5% das cidades tinham moradores que se reconheciam como índios. A informação, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), leva em conta os Censos de 1991, 2000 e 2010. Hoje é comemorado o Dia do Índio.

Na contagem mais recente, 817 mil entrevistados - 0,4% dos brasileiros - se disseram indígenas. Hoje há mais indígenas na zona rural (502 mil) que em áreas urbanas (315 mil). No Censo 2000, eram 383.298 residentes em zona rural e 350.829 na zona urbana.

"A mudança na autodeclaração é uma hipótese bem plausível. A gente percebe que houve ligeira redução de indígenas na área urbana, enquanto na zona rural houve significativo aumento. Nas zonas rurais, as mulheres ainda têm alta taxa de fecundidade", diz a pesquisadora do IBGE, Nilza Pereira.

No Censo 2010, pela primeira vez o IBGE investigou o contingente populacional indígena no questionário básico, aplicado em todos os domicílios pesquisados. Em 1991 e 2000, a categoria "indígena" era pesquisada apenas no questionário completo, destinado a uma parcela da população. "A hipótese da migração ainda não foi estudada porque esse tema faz parte do questionário completo, que ainda não foi analisado", afirma Nilza.

Reconhecimento tardio. O ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e antropólogo da Universidade Federal Fluminense Mércio Pereira Gomes lembra que nos últimos dez anos alguns grupos sociais no Norte e Nordeste se reconheceram como indígenas. "Como sociedades negras que depois se declararam quilombolas, havia grupos sociais que nem falavam mais a língua indígena e depois se reconheceram como etnia indígena. Isso ocorreu com os boraris, em Altamira, os anacés, em Fortaleza, e os tabajaras, na Paraíba."

O coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas (Pró-Índio) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, José Ribamar Bessa, chama a atenção para a necessidade de políticas públicas para o indígena que vive em zona urbana. "Nós somos adestrados a não perceber essa população. A gente acha que quem sai da aldeia deixa de ser índio. E não é assim. O alemão que mora no Brasil não vira brasileiro. As cidades são o cemitério das línguas indígenas", critica.

São Paulo é a capital brasileira com maior número de índios - 12.977 pessoas que se disseram indígenas - e a quarta cidade do País. À frente de São Paulo estão três municípios de Amazonas: São Gabriel da Cachoeira (29 mil), São Paulo de Olivença (15 mil) e Tabatinga (14,9 mil).

SP vai ter mais 3 escolas indígenas

O governo de São Paulo terá três novas escolas estaduais indígenas. As novas unidades serão construídas em tribos guarani e tupi-guarani em Itanhaém, Praia Grande e Peruíbe, no litoral, para atender 77 indígenas. O Estado ainda não tem o cronograma das obras. Os prédios melhorarão o atendimento já feito. Em duas aldeias (Tangará e Nhamandu Mirim), as construções vão substituir salas que eram vinculadas a outras escolas. Na Tekoá Mirim, o prédio vai acolher 25 alunos que assistiam a aulas em uma unidade improvisada. São Paulo tem 31 escolas indígenas, com material bilíngue e aulas dadas por indígenas.