Título: Modificações nas políticas monetária e creditícia
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2012, Economia, p. B2
As mudanças na política monetária e nas instituições de crédito terão de se traduzir em profundas modificações, com consequências das quais será preciso tomar consciência.
A queda acentuada da taxa de juros básica, a Selic, promovida pelo Banco Central, não somente permite uma redução das taxas de juros em geral, como tem de se refletir em menores taxas das aplicações financeiras, a começar pelos rendimentos proporcionados pelas cadernetas de poupança que, sendo hoje totalmente líquidos e isentos de impostos, não podem ser superiores aos de outras aplicações que não oferecem as mesmas vantagens.
Por outro lado, é lógico que as instituições financeiras que captam seus recursos no mercado financeiro continuam pagando por eles a mesma remuneração, quando estão reduzindo as taxas de juros cobradas nos seus empréstimos. É verdade que os juros cobrados pelas instituições financeiras são os mais altos do mundo, mas não devemos esquecer de que a remuneração dos recursos captados é também uma das mais altas do mundo. Temos de estar preparados para essas mudanças.
As instituições financeiras, em contato com a presidente Dilma Rousseff, informaram-na de que deverão fazer um novo esforço para reduzir os juros das suas operações, mas que, paralelamente, deverão ser mais exigentes quanto à qualidade dos devedores, o que poderá se traduzir por uma queda pronunciada do volume dos empréstimos.
No Brasil, o volume de crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é inferior ao dos países desenvolvidos, pois o risco com os mutuário é muito maior do que numa economia consolidada. Mesmo assim, o crescimento do volume dos empréstimos tem sido muito rápido, especialmente no caso das famílias cuja renda nem sempre justificaria o nível de endividamento.
Os bancos, que devem manter provisões elevadas em razão do risco de inadimplência que estão enfrentando, deverão mostrar-se mais cuidadosos na escolha dos seus mutuários, ou seja, reduzir o leque dos seus créditos. Isso contraria as intenções proclamadas do governo.
Existe, assim, o risco de os bancos públicos acolherem os mutuários recusados pelo setor privado, o que os transformaria em estabelecimentos com maior grau de inadimplência, levando, pois, o governo a lastreá-los, abrindo desse modo uma nova brecha nas contas públicas.
Todos esses aspectos precisam ser ponderados para que se conduzam com prudência as novidades nos planos monetário e creditício.
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 03/05/2012 05:56