Título: Taleban paquistanês liberta 384 em presídio
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/04/2012, Internacional, p. A11

Militantes do Taleban libertaram ontem 384 detentos em Bannu, no noroeste do Paquistão, na maior fuga penitenciária da história do país. Entre os prisioneiros que escaparam está Adnan Rashid, um comandante insurgente acusado de tentar matar o ex-presidente Pervez Musharraf.

O ataque começou na madrugada de ontem. Cerca de 100 militantes, em picapes e armados com granadas propelidas por foguetes e fuzis AK-47. Havia cerca de 900 presos no local.

Os militantes explodiram as portas de algumas celas para libertar os detentos. Muitos deles estavam no corredor da morte, segundo o governo da Província de Khyber Pakhtunkhwa. Os guardas da penitenciária ofereceram pouca resistência aos taleban, que controlaram a prisão por cerca de duas horas. "Os militantes pediram que eles não atrapalhassem a ação", disse uma fonte do governo paquistanês.

O Taleban paquistanês assumiu a autoria do ataque. "Libertamos nossos militantes e não perdemos um único homem", disse o porta-voz Ihsanullah Ihsan. "Estávamos planejando essa operação abençoada havia meses."

Um prisioneiro identificado como Malik Nazeef contou detalhes da invasão. "Era um pouco depois da meia-noite, quando as explosões começaram. Algumas celas caíram sobre nós", relatou. "Então veio o tiroteio. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo."

Ainda de acordo com o detento, homens barbudos armados com fuzis invadiram os corredores e perguntaram onde estava Rashid. "Um deles tinha um grande martelo, com o qual tentou abrir as celas. Não funcionou e ele atirou. Eles se comunicavam por meio de um aparelho sem fio", disse. "Vi de 15 a 20 homens, mas pelo barulho dos tiros, havia mais. Nenhum usava máscara e alguns falavam árabe."

Contra-ataque. Forças de segurança lançaram uma contraofensiva nas cidades de Bannu, Lakki Marwat e Kohat. Redes de telefonia celular foram bloqueadas. Até o final da noite de ontem, 11 prisioneiros foram recapturados. Outros 20 retornaram voluntariamente ao presídio.

Especula-se que a maioria dos detentos buscou refúgio na área tribal do Waziristão do Norte, que abriga militantes do Taleban, da rede Haqqani e da Al-Qaeda. A província é um dos alvos da campanha de ataques com aviões não tripulados da CIA na região.

"Foi a maior fuga de prisões da história do Paquistão", disse o ex-chefe de polícia da província Malik Naveed Khan. "Foi uma falha muito grande. Um número assim de detentos fugirem no meio da noite levanta questões muito graves."

Ainda de acordo com Khan, o Taleban paquistanês vinha de uma série de revezes no último ano, mas a fuga deve impulsionar a moral dos militantes. Apesar do investimento em armas e treinamento, o ex-chefe de polícia diz que as prisões da região ainda têm problemas. "Nossas prisões não estão equipadas para lidar com esse tipo de ataque", afirmou.

A disciplina dos taleban no ataque contrastou com a desorganização das forças de segurança paquistanesas. A polícia foi isolada da prisão por meio de bloqueios feitos pelos militantes em estradas. Imagens de televisão mostraram o presídio parcialmente destruído, celas vazias e cartuchos de bala pelo chão.

Não está claro quantos dos fugitivos eram militantes. Segundo o ministro provincial de Informação Mian Iftikhar Hussain, ao menos 20 deles eram"muito perigosos". O Paquistão é visto como essencial para a estratégia americana para o Afeganistão. / NYT e REUTERS