Título: Assessor do DF pediu propina de R$ 300 mil
Autor: Junqueira, Alfredo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2012, Nacional, p. A7

O esquema montado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para tentar controlar o sistema de bilhetagem eletrônica do Departamento de Transportes Urbanos do Distrito Federal (DFTrans) envolveu negociação de propinas no valor de R$ 300 mil a servidores e reuniões com o secretário de Estado de Transportes, José Walter Vazquez Filho.

Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal no dia 7 de julho de 2011 mostram que o contraventor combinou com o então diretor da Delta Construções no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, o pagamento de "uma ajuda financeira" para Valdir Reis, assessor da Secretaria de Planejamento do Distrito Federal na época.

Segundo Cachoeira, o secretário de Transporte do DF "gosta muito" de Reis e vai deixar sob sua responsabilidade "esse negócio aí da bilhetagem". O contraventor se referia ao sistema de bilhetagem eletrônica da DFTrans, que rende R$ 6 milhões/ano e passaria por licitação dirigida para favorecer uma empresa ligada à empreiteira. "Ele (Valdir) pediu 300 mil. Mas nós temos que dar um dinheirinho para ele, porque o Zé Valter gosta muito dele, e vai deixar na mão dele esse negócio aí da bilhetagem aí, entendeu?", explica Cachoeira ao diretor da Delta.

Presos. Abreu e Reis foram presos na quarta-feira, durante a Operação Saint-Michel, promovida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Distrito Federal. Trata-se de um dos desdobramentos da Operação Monte Carlo da PF, que, em fevereiro, prendeu Cachoeira e revelou esquema de desvio de recursos públicos e financiamento de campanhas chefiado pela Delta.

Em outro registro feito pela PF em 31 de dezembro de 2010, uma conversa entre Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, araponga e braço direito de Cachoeira, e um homem não identificado, revela as expectativas dos auxiliares do bicheiro com a DFTrans.

O interlocutor de Dadá diz que vai se aposentar e procurará um deputado para ajudá-lo. "Vou querer uma boquinha numa quebrada dessas, um DFTrans desses da vida aí. Pra roubar igual a um filho de uma puta, tomar dinheiro desses cornos até não poder mais", diz para Dadá.

Uso indevido. O secretário José Walter Vazquez Filho disse acreditar que há "uma pessoa aí usando o meu nome para vender facilidades". Segundo ele, Valdir realmente o procurou em "julho ou agosto de 2011" para apresentar uma empresa de bilhetagem eletrônica, mas que, por questões de agenda, os dois encontros marcados foram cancelados.

"Recebi várias outras empresas; nunca a que Valdir queria me apresentar", disse. E acrescentou que não teve encontros com Cachoeira, nem com Gleyb Ferreira da Cruz, apontado como braço financeiro da quadrilha. "Tenho 38 anos de serviço público em todos os cargos que você pode imaginar. Nunca levei multa de tribunal de contas", disse Vasquez Filho. O secretário também se disse surpreso com a prisão de Valdir, de "quem gosto e até recomendo. Fiquei surpreso, assim como o Brasil deve ter ficado ao saber do envolvimento do senador Demóstenes (sem partido-GO) com toda essa história".