Título: A ata é do governo, não do Banco Central
Autor: Fernandes, Adriana; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2012, Economia, p. B6

Os documentos sobre inflação do Banco Central têm causado mais atenção do que deveriam. Em outras situações haveria convergência de mercado, uma quase unanimidade em relação ao que se quis dizer e sobre seus próximos passos. Mas, nos últimos dois anos, o que se tem visto é uma dificuldade frequente da instituição em ser clara em seus comunicados. Novamente, muita gente esperou que a Selic chegasse a 9% e ficasse por aí, algo escrito explicitamente na penúltima ata. Agora, o BC volta a deixar de lado o que considerou e abre espaço a nova queda em junho. É uma ata de governo, não de Banco Central.

A questão é que estão dispostos a testar os limites de baixa nas próximas reuniões. Politicamente, o governo Dilma está com a intenção de ser lembrado como o governo que mais baixou a taxa de juros. Mais politicamente ainda, deve estar preocupado por entregar seus dois primeiros anos com a segunda pior média de crescimento da história recente, só não perdendo para o período Collor.

Com isso, não se quer dizer que o BC esteja fazendo uma análise errada. Ao contrário, a ata trouxe sua percepção de um cenário internacional pior do que se esperava no ano passado e a importância desinflacionária disso. O problema é que se mantém a percepção de atuação focada no curto prazo. Por mais que mercado e os modelos do BC sinalizem uma inflação em aceleração em 2013, mantém-se uma visão que parece olhar só os próximos meses. Com a ajuda da crise global, até agora essa tática tem funcionado, mas ela também coloca névoa na visão míope do governo, que força o crescimento, novamente baseado em estímulos à demanda apenas, trazendo o IPCA de novo ao teto da meta de 2013.